AUTITV
DISCIPLINA
DE GASTRONOMIA
10ª
AULA, 19 de Janeiro de 2015
NUTRIÇÃO
CONTINUAÇÃO DA AULA ANTERIOR
QUANTAS CALORIAS DEVO COMER POR
DIA?
Antes de mais, o que
são calorias?
Calorias são as unidades de energia fornecidas pelos constituintes
alimentares energéticos (proteínas, gorduras e hidratos de carbono) que ao serem metabolizadas no organismo
produzem o calor necessário para a manutenção do corpo.
O organismo necessita de calorias, que consome
(queima) em conformidade com: A idade, o clima, a actividade física e o volume
de massa corporal.
A sua carência, bem
como o excesso, provocam o estado patológico reflectido em magreza pela
insuficiência ou em obesidade pelo excesso (Prof. Gonçalves Ferreira).
Vamos então medir o nosso Índice de Massa Corporal
(IMC). O índice de massa corporal é a
relatividade entre o peso e a altura, que se encontra, pela seguinte fórmula:
IMC = peso ÷ (altura×altura)
Vamos a contas, por exemplo:
Uma pessoa que pesa 70 kg, mede 1,75m
Então encontra a altura ao quadrado: (1,75×1,75) =
3,063 como se fosse uma receita de culinária.
e, divide o peso (70kg) pelo resultado da altura ao quadrado
(3,063)
que é: 70 a dividir 3,063 ou seja
70 ÷ 3,063 =
22,854
Vamos arredondar para 23, então este IMC é de 23
E agora o que é que isto nos diz? Nada!
É um índice é normal, baixo
ou alto? Para isso precisamos de
conhecer a
tabela de valores dos IMC,
aqui a temos.
Tabela
de Valores dos IMC
|
|
< 16
|
Muito magro
|
16 a
17
|
Magro
|
17 a
18
|
Ainda magro
|
18,5 a 25
|
Normal
|
25 a
30
|
Gordinho
|
30 a
35
|
Gordo
|
35 a
40
|
Muito gordo
|
> 40
|
Gordíssimo
|
Como vimos a fórmula para encontrar o IMC é muito simples, mais simples que qualquer receita culinária. Mas para a obtenção destes resultados foram necessários altos estudos científicos feitos por especialistas.
Para sabermos quantas calorias devemos ingerir por
dia, O dr. António J. Leal Chaves, no seu livro, Viva Melhor Com a Medicina do Lar, 3ª edição
da Editora Cene, Lisboa, 2006,
indica para idades superiores a 55 – 60 anos diz o seguinte:
Se exerce uma actividade física moderada,
multiplica o peso ideal por 35.
Se exerce uma actividade desportiva regular multiplica o peso ideal por 40.
.
DOSES
MÉDIAS DIÁRIAS RECOMENDADAS DE CADA NUTRIENTE,
PARA IDADES SUPERIORES A 65 ANOS
Necessidades
energéticas
(calorias)
|
Homem
|
Mulher
|
2350
|
1800
|
|
Proteínas
|
75 g
|
63 g
|
Hidratos
de carbono
|
375 g
|
275g
|
Gorduras
|
75g
|
63g
|
Consultar Tabela de Necessidades em Calorias e Nutrientes por Grupos de Idades e Sexos, Alimentação Racional e Nutrição, Centro de Estudos de Nutrição (CEN), Instituto Dr. Ricardo Jorge (INSA), 1977.
Notas:
1.As
fibras alimentares não são nutrientes, elas não contêm calorias nem qualquer
outro elemento nutricional, todavia são indispensáveis na alimentação como
reguladoras do metabolismo, devendo o seu consumo diário ser de 8 a 10 gramas .
2.O
peso das fibras não é a mesma coisa que
o peso dos alimentos que as contêm, para saber esse consultar a
Tabela da Composição de Alimentos, INSA,
Lisboa, 2006.
3.
O álcool contem 7 kcal por 1 grama , mas atenção, o álcool não é um nutriente, por
isso se diz que as suas calorias são vazias. Ou seja, ele transmite energia,
mas não alimenta.
Quantas calorias
contem cada um destes nutrientes:
Proteínas
|
1g = 4 calorias
|
Hidratos de carbono
|
1g = 4 calorias
|
Gorduras
|
1g = 9 calorias
|
Média de nutrientes
recomendada em percentagem
Proteínas 10 a 15%
Gorduras 20 a 30%
Hidr. de carb. 60 a 65%
Principais alimentos fornecedores
de nutrientes para 1800 kcal.
Proteínas
|
Leite e derivados
|
350g
|
Carne
|
85g
|
|
Peixe
|
90g
|
|
Gordura
|
Animal e vegetal
|
40g
|
H.
C.
|
Pão
|
150g
|
Arroz ou massa
|
70g
|
|
Açúcar
|
10g
|
|
Fibras
aliment.*
|
Folhosas verdes
|
400g
|
Leguminosas
|
300g
|
|
Fruta
|
300g
|
|
Quant. mínima
desde que não haja indicação contrária
|
Fonte : Alimentação Racional e Nutrição, CEN, Lisboa, 1977
ENERGIA MÉDIA DOS PRINCIPAIS ALIMENTOS
| |
ALIMENTOS
|
Calorias/100g
|
Pão diversos tipos
|
248
|
Arroz e massa
|
356
|
Leite e iogurte
|
44
|
Queijos ( vários tipos)
|
346
|
Queijo fresco e requeijão
|
199
|
Compotas caseiras, referência em «Mimos da Terra»
|
275
|
Bolacha crecker e maria
|
444
|
Açúcares, mel, chocolate de culinária
e cacau
|
361
|
Ovos (gema 342, clara 47)
|
149
|
Batata comum
|
89
|
Batata comum frita caseira
|
225
|
Batata frita de pacote
|
526
|
Batata doce
|
119
|
Carne de vaca
|
146
|
Carneiro , borrego e cabrito
|
118
|
Porco, carne
|
209
|
Porco toucinho (fresco entremeado 682, fumado 367)
|
524
|
Enchidos e fumados
|
354
|
Aves (peru, frango, pato, codorniz) e coelho
|
197
|
Peixe
|
128
|
Moluscos (polvo, lula e chocos)
|
74
|
Crustáceos (camarão, lagostim, lagosta)
|
85
|
Bivalves ( amêijoa, berbigão , mexilhão)
|
70
|
Gorduras ( azeite, óleo, banha,
margarinas)
|
852
|
Molhos salgados
|
359
|
Leguminosas frescas ( ervilhas e
favas,)
|
68
|
Leguminosas secas, média (
feijões, grão, favas e ervilhas)
|
295
|
Feijão verde
|
25
|
Couves, alfaces, espinafres,
agriões e outras folhosas
|
23
|
Frutos da horta ( abóbora,
tomate pepino, pimento e outros
|
19
|
Raízes comestíveis ( nabo,
cenoura, beterraba, cebola, alho)
|
18
|
Frutos frescos, incluindo figo e uva, excepto banana
|
40
|
Banana
|
95
|
Frutos em calda e cristalizados
|
456
|
Frutos secos oleaginosos
|
202
|
Frutos desidratados (ameixas, damascos, figos, uvas e tâmaras)
|
214
|
Vinho: branco e tinto , maduro,
verde e espumante com 9º média
|
74
|
Vinhos generosos: porto, abafado, madeira, com 16º média
|
147
|
Cerveja , branca e preta com
média de l3,15º de álcool
|
26
|
Destilados: aguardentes, Whiskys, Rum, Gin, com 40º média
|
259
|
Licores: anis, ginja e outros, com 28,5º
|
304
|
Refrigerantes: cola e gasosas
diversas
|
31
|
Café e chás sem açúcar nem outros aditivos
|
0
|
Com o conhecimento que já temos dos nutrientes, já
podemos começar a aplica-los na preparação de uma dieta. Vamos então começar com uma sopa da colecção de Sopa
Rica[1]
SOPO
DE FEIJÃO BRANCO COM HORTALIÇA
400g de feijão branco seco, 600g de abóbora, 400g
de couve verde (portuguesa ou outra),200g de cebola,1/2 dl de azeite, 1 raminho
de salsa, 1colher de café de cominhos,
água e sal que baste.
Confecção:
Põe-se o
feijão de molho em água durante algumas horas, quando ele estiver completamente
hidratado põe-se a cozer na panela da
sopa, juntamente com a cebola, a abóbora
e o ramo de salsa. Estando o feijão cozido, junta-se o azeite, acrescenta-se a água se for necessário e tritura-se com a
varinha trituradora, ou com o passe vitte.
Coze-se a couve à parte e junta-se à sopa, nessa
altura juntam-se os cominhos, acrescenta-se mais água, se necessário, até à medida da
sopa, tempera-se de sal, deixa-se levantar fervura, mexe-se e retira-se
do lume.
Nutrientes
por
dose ≈
|
V. E.
|
Prot.
|
Gord.
|
H.C.
|
F.A.
|
kcal
|
g
|
g
|
g
|
g
|
|
173
|
10
|
5
|
21
|
11
|
Nota:
1.Esta
sopa liga muito bem com pedacinhos de pão frito, mas se optar-mos por ele, não nos podemos esquecer de que às
calorias do pão, devemos somar mais 9 kcal
por cada grama de óleo consumido na fritura.
2.Para
sabermos o consumo do óleo, pesa-se
este antes e depois da fritura do pão, mas se quisermos
evitar esse trabalho podemos partir dos resultados já apurados, em que a
fritura do pão consome medianamente ½ dl de óleo (40g = 360 calorias) por cada
100g de pão.
3.O sabor dos cominhos liga muito bem com o
feijão e neutraliza o sabor acentuado da abóbora menina, a mais usada nesta
região. Pode, no entanto, substituir-se
este por outro sabor a gosto e que também ligue bem com os restantes
ingredientes da sopa.
Obs:Para
saber a medida da sopa, mede-se a mesma com a mesma medida de água e faz-se uma
bitola. Quando a sopa estiver pronta confere-se com a bitola, se tem a mesma
medida.
Para terminar a
aula de hoje vamos falar da velha
história da sopa.
ALGUMAS
NOTAS SOBRE O LONGO PERCURSO DA SOPA
A nossa sopa de cada dia, suculenta,
nutritiva, económica e gustosa, também já tem passado por imerecidas desditas: ou porque é comida de pobres e fora de uso, ou porque não é apetitosa, ou
porque é água e não alimenta, ou porque engorda, enfim todos os defeitos se
aplicam ao que se quer rejeitar.
Por outro
lado cobertas de virtudes estão as
nossas preferências. É o que tem acontecido com a sopa ao longo da sua existência que não é curta.
No entanto, como tudo o que presta resiste, ela aí está na mó de cima, depois deter passado por todas as rejeições.
Não se sabe
exactamente como nem quando se começou a
cozinhar a sopa. Talvez ela seja anterior à descoberta do fogo e que certos alimentos, como sementes e
caules duros fossem amolecidos em água para melhor se ingerirem e digerirem
e, porventura essa mesma água fosse
aproveitada e ingerida com os minerais que
os alimentos nela deixavam, talvez.
O que é mais
provável é que elas tenham surgido como
alimento cozinhado na época neolítica (4500 a 3800 a. C.), quando se deu a
sedentarização e com ela o aparecimento da agricultura, da pastorícia e da
olaria.
Segundo Françoise
Aubaile [2],
não temos indicações de que a sopa fosse conhecida dos gregos ou dos latinos e
terá chegado até nós através dos germânicos, pois que, prossegue,
o étimo conhecido de sopa é suppa,
que é um termo germânico com o significado de ensopado, por ventura pão
ensopado em líquido. Também na mesma
língua e segundo a mesma fonte , o termo
sûfan significa sorver e sûpan
temperar.
Juntando esta
terminologia, podemos depreender que a sopa terá tido a sua origem nos povos celtas que chegaram ao sul da
Europa e, concretamente a Portugal, no século V antes
de Cristo.
Em todo o nosso
país a sopa tem o seu lugar cativo, e tem feito um percurso histórico que lhe confere o estatuto de um dos melhores
e mais completo dos alimentos.
Sem conhecer quaisquer regras alimentares, apenas intuitivamente, os antigos povos composeram, com os alimentos de que dispunham, as suas refeições nutritivas, gostosas e variados. Onde a ciência veio encontrar razões explicativas para alguns fenómenos que hoje se reconhece terem influenciado o comportamento, a saúde e a longevidade dos povos habitantes de diferentes regiões.
Sem conhecer quaisquer regras alimentares, apenas intuitivamente, os antigos povos composeram, com os alimentos de que dispunham, as suas refeições nutritivas, gostosas e variados. Onde a ciência veio encontrar razões explicativas para alguns fenómenos que hoje se reconhece terem influenciado o comportamento, a saúde e a longevidade dos povos habitantes de diferentes regiões.
O conceito que
hoje temos de sopa, é o de uma entrada líquida, antes propriamente da refeição,
o que nem sempre assim foi e ainda hoje não é completamente. Uma sopa pode
constituir uma refeição completa, composta de proteínas, gorduras, hidratos de
carbono, fibras alimentares, vitaminas, minerais e água.
A
sopa é um bom processo de reunir os nutrientes necessários, associados ao
conforto da saciação e ao prazer de
saborear um bom paladar.
P.Cip
A
Sopa Rica, nome que lhe foi dado pela autora, resulta de uma recolha de sopas
feita na
região
saloia, coleccionadas em fichas
numeradas conforme a lista seguinte.
Ficha nº Sopa
(da, de, ou do) :
1 Abóbora
com feijão branco e hortaliça
2 Adegueiro
3 Bacalhau
com massa
4 Batata
e cenoura com nabiças
5 Batata
doce
6 Beldroegas
com maçaroca
7 Borrego
8 Caça
9 Cachola
10 Caldo
verde
11 Camarão
12 Canja
de galinha
13 Canja
de miúdos
14 Canja
de coelho
15 Coelho
com acelgas
16 Canja
de peixe
17 Cardo
18 Carne
de vaca
19 Cogumelos
20
Cebola com cogumelos
21 Cenoura
e batata com agriões
22 Chícharos
23 Couve
branca ( repolho, lomb. ou flor)
24
Couve com abóbora e farinha de milho
25 Duas
cores
26
Ervas
27 Ervilhas
com ovos esfarrapados
28 Ervilhas
com ovos escalfados
29 Fava na vagem
30
Fava em puré com arroz
31 Feijão
branco com abóbora e chouriço
32 Feijão
branco com nabo e nabiça
33 Feijão catarino com arroz
34 Feijão
manteiga com hortaliça
35 Feijão
frade
36 Feijão
maduro
37 Feijão
verde
38 Frango
com feijão branco e abóbora
39 Grão
com bacalhau
40 Grão
com espinafres
41 Grão
com massa
42
Horta
43 Lavrador
44
Lulas
45 Marisco
46
Nabo e cenoura com ervilhas
47 Pão
com azeite (tb sopas escaldadas)
48
Peixe inteiro com ervas aromáticas
49 Peixe
desfeito com ervas aromáticas
50
Peixe com tomate
51 Pescador
52
Tomate
53 Verão.
Sopa de grão com massa e abóbora, uma das sopas
emblemáticas da região saloia
Nota final:
Texto
composto de 8 páginas,
feito exclusivamente para apoio
das aulas de gastronomia da Universidade
da Terceira Idade de Torres Vedras, pela professora da disciplina ,
Palmira Cipriano Lopes.
[1] Sopa Rica é uma colecção de sopas
recolhidas na região saloia,
ver índice anexo, página 8.
[2] Françoise Aubaile ,Sallenave, L’
alimentacion en Mediterraneé,Préhistoire et Antiquité, CNRS/ Musée d´Histoire
Naturelle, Paris, 1989, citado por Maria Manuel Valagão, Tradição e Inovação
Alimentar, 2006, p.87, sgg.
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