AUTITV
DISCIPLINA
DE GASTRONOMIA
9ª AULA, 12 de
Janeiro de 2015
NUTRIÇÃO
O
QUE DEVO COMER PARA MELHOR VIVER
SIGAMOS A RODA DOS ALIMENTOS
A roda dos alimentos está
dividida em sete grupos proporcionais às necessidades alimentares
O grupo 1 que é o do leite e
derivados, constitui um grupo à parte por conter todos os nutrientes excepto a
vitamina C;
O grupo 2 que é o
das proteínas ou prótidos, subdividido em dois , o de proteínas de origem
animal (carne, peixe e ovos) e o de proteínas de origem vegetal ( leguminosas,
secas e frescas);
O grupo 3 que é o dos hidratos de carbono ou glícidos, composto
principalmente por cereais ( trigo, centeio, cevada, aveia, milho e arroz);
O grupo 4 e 5 que é o das vitaminas e
minerais, subdividido em 2, o dos frutos
portadores de açúcar (frutose) e o das hortaliças;
O grupo 6 que é o das gorduras ou lípidos, azeite, óleos,
banha e manteiga;
O grupo 7 que é o grupo da água, contida em todos os alimentos.
Verifiquemos
agora o fraccionamento da roda. Cada fracção destas corresponde às seguintes proporções:
Grupo do leite e derivados ,
18%;
Grupo das proteínas: animais, 5%, vegetais (leguminosas) 4%
Grupo dos hidratos de carbono (cereais e batatas) 28%
Grupo das vitaminas e
minerais:
hortícolas 23% e fruta 20%
Grupo das gorduras (azeite, óleos, banha e manteiga) 2%
Grupo da água, não constituindo um grupo
próprio, deve ser ingerida entre 1,5 a 3
litros por dia.
Cada um destes grupos desempenha,
no organismo humano, funções especiais e articuladas umas com as outras.
Por isso a Direcção Geral de Saúde recomenda
a ingestão diária de todos eles, nas proporções indicadas pela roda .
Já sabemos as variedades de alimentos e as proporções recomendadas de cada um
deles, para uma dieta equilibrada. Falta
- nos saber as quantidades desses alimentos que devemos ingerir diariamente para uma
alimentação saudável.
Quantas calorias devo ingerir por dia?
Continuamos este assunto nas próximas sessões.
Hoje
falamos da roda de alimentos, agrupados
por nutrimentos (ou nutrientes).
Precisamos
antes de mais de distinguir o que são uns e o que são outros.
Então:
Alimentos são os produtos alimentares,
tal como se vêm representados na roda de alimentos.
Nutrimentos são as propriedades químicas contidas nesses
alimentos.
Por exemplo:
A batata, a batata é um alimento que contem calorias alimentares distribuídas
por: proteínas e hidratos de carbono.
A batata
é um dos poucos alimentos, incluídos na tabela de composição de alimentos, que não contem gordura, contem fibras, mas
estas não contêm calorias. E, contem vitaminas e minerais que também não contêm
calorias.
“Radiografia” sumária da batata
“Radiografia” sumária da batata
Alimento
|
Nutrimentos por 100g
| ||||
Batata
|
Energia
|
Prot.
|
Gord.
|
H.C.
|
F.A.
|
Kcal.
|
g
|
g
|
g
|
g
| |
89
|
2,5
|
0
|
19,2
|
1,6
|
Sabendo já que os nutrimentos são elementos químicos constituintes dos alimentos, vamos dividi-los em:
Macro
elementos, também apresentados como macro - nutrimentos, ou macro - constituintes.
Dos macro
- nutrientes fazem parte as
proteínas, os hidratos de carbono
e as gorduras.
São esses os
abrangidos na nossa matéria.
Dos micro – nutrientes, fazem parte as vitaminas
e os minerais. que não se incluem no âmbito do nosso estudo (ver ficheiros anexos sobre macro e micro constituintes).
Obs:
Para estudo mais aprofundado sobre os
mesmos e sobre toda a matéria de
nutrição, consultar bibliografia sobre o assunto, designadamente:
Alimentação, Nutrição e Saúde, do Prof .Gonçalves
Ferreira, ed. de Ciência, Progresso e Cultura, 1980. Tabela da Composição de
Alimentos, Instituto Dr. Ricardo Jorge,2006. Opúsculos informativos diversos da
Direcção Geral de Saúde.
Ao falar
de batata e já tendo feito referência a
alguns dos seus constituintes alimentares, aproveito para apresentar a sua conturbada história. De
caluniada, mal afamada e rejeitada, por
tudo passou neste mundo ocidental, até se tornar indispensável neste mesmo
mundo.
A BATATA E A
SUA HISTÓRIA
O nome botânico da batata, por ventura
o tubérculo mais popular do
mundo, é solanum tuberosum, não
sabemos como, nem de onde proveio, admite-se que tenham sido os espanhóis a divulgar o seu cultivo e que tenha chegado à Europa em 1534.
Em 1557 entra no léxico
português no tratado dos
descobrimentos por Augusto Gaivão.
Sabe-se apenas que todas as variedades de batata descendem de uma única, originária do Perú.
O seu nome, batata, segundo o
dicionarista Honaiss deriva do falar
dos nativos do Haiti, o Taino e advém do castelhano,«patata».
A batata entrou na Europa em 1534
como planta ornamental e só a partir de 1570 se começou a vulgarizar como planta
alimentar.
Porque era cultivada em hortas e
pousios estava por isso isenta do imposto de dízimo e de outros direitos
feudais, o que fez com que os camponeses
a adoptassem rapidamente, tendo o seu
cultivo em Portugal início em meados do século XVI.
Uma das primeiras referências à
batata , se não a primeira, foi feita em 1545 pelo cronista espanhol Agustín
Zarate Cosat, na sua História
del descubrimiento y conquista de la
provincia de Perú. Las
viandas que em aquelas terras comem los índios som maíz cocido y tostado
em lugar de pan, e la carne de venado es cocinada a la manera de mojama, existe
pescado seco y unas raices de diversos géneros que Elles llaman yucas, camotes
y papas.
Sabemos portanto (op. cit) que o conhecimento do tubérculo que viria a revolucionar a história da alimentação do povo europeu,
data pelo menos da segunda metade do
século XVI e que os navegadores
espanhóis e portugueses o terão provado
no local de origem, mas com isto não se quer dizer que a população europeia, particularmente a
portuguesa e espanhola a tenha cultivado de imediato para seu uso, tanto mais que os médicos da
época tinham dela uma péssima opinião e
consideravam-na, entre outras desvirtuosidades; desenxabida, flatulenta,
indigesta, debilitante e malsã, adequada apenas ao sustento de animais (sic).
Durante o final do século XVI e
no século XVII a batata não se encontra citada nos livros de receitas da época,
embora alguns escritores espanhóis
dessa mesma época a tenham em
textos.
Foi já no século XVIII que o
francês Antoine Augustin
Parmentier teria convencido
Luís XVI de que essa batata poderia solucionar os
problemas alimentares do povo francês.
Foi então que para divulgação e promoção da batata, esta fez parte de uma refeição
servida em Versailles, a 24 de Agosto de 1785, com toda a corte reunida,
para apreciação da mesma como
alimento humano.
A partir daí a batata passou a vulgarizar-se como alimento humano em
França e a aumentar-se o seu
consumo, passando de alimento malquisto
e vilipendiado, a ter lugar na mesa dos nobres e burgueses europeus.
Segundo
José Hermano Saraiva, Diogo de Sousa, que terá escrito «As cortes de Parnaso»,
entre 1620 e 1630, seria conhecedor da batata porque a sita na sua poesia.
Também Bento Pereira, no seu Thesouro da Língua Portuguesa, 1647, refere a
batata. Porém, até aos finais do século XVII e grande parte do seguinte a batata
continuou a ter uma baixa reputação na Europa, não passando de um
alimento pouco conceituado pelas classes altas, utilizada apenas para alimento
de animais, de escravos e de pobres ,
conceito a que Portugal não fugia.
Para
confirmação o que acaba de ser dito,
atendemos ao primeiro livro de cozinha
publicado em 1680, Arte de Cozinhar de Domingos Rodrigues, no qual a
batata não aparece mencionada, tal como
acontece com outras obras dos seus colegas espanhóis.
A batata só aparece como receita
de culinária, para gente bem instalada na vida em 1715 e 1729 registada por
Francisco Borges Henriques, mesmo assim dizendo que : « o que dá pelo nome de batatada não passa de um puré grosseiro
adicionado com o dobro do peso de açúcar em ponto e amêndoa pisada e, se for de
nabos, passa a chamar-se nabada», contudo fica-nos a dúvida se a batata
referida seria a Solanum tuberosum (nome botânico da batata comum, de que temos vindo
a falar) ou a Ipomoea batatas ( que é a batata
doce), conforme aparece muitas vezes
confundida uma com a outra.
A batata comum (Solanum tuberosum) no início do conhecimento da sua existência não foi apreciada como alimento humano pelas
classes altas, que apenas a usavam como curiosidade gastronómica, o que se prolongou durante o século XVIII.
Lucas Rigaud, um dos cozinheiros
de quem presentemente se fala muito, por ter sido cozinheiro da corte portuguesa
nessa época, na sua obra
Cozinheiro Moderno ou Nova Arte de Cozinhar de 1780, dedica apenas
duas linhas à batata em que
diz: « As batatas depois de
cozidas em agoa, e pelladas, comem-se
com molho de manteiga, e mostarda».
Só a partir do livro de Paulo
Plantier - O Cozinheiro dos Cozinheiros, editado pela primeira vez em 1870, a
batata entra nos tratados de culinária,
sendo nesta obra apresentadas 18 maneiras de a cozinhar.
À segunda
edição desta obra, veio Ramalho Hortigão (1836-1915), com o prestígio da
sua escrita, dar um grande impulso à credibilidade da batata ao
adicionar à referida obra uma receita da sua autoria, onde
ensina a frigir as batatas em manteiga fresca vinda de Sintra, a
constipa-las no parapeito de uma
janela e a voltar a submete-las ao inferno da gordura fervente para que
empolem e se transformem no pitéu do qual exalta a qualidade e o sabor.
Seis anos mais tarde, João da
Mata na sua obra «Arte de Cozinha»,
lançada em Lisboa em 1876, inclui as batatas nas mais variadas receitas,
vindo a torna-las indispensáveis nas
variedades de cozinhados em que actualmente se representam.
Assim entrou a batata no século XX como elemento respeitado, não
parando a sua escalada nos mais diversos processos que hoje conhecemos: cozida,
guisada, estufada , assada, recheada em puré e de toda a maneira imaginável.
A batata demorou a impor-se, mas
vencida a desdita do seu desconhecimento, já não é dispensável seja nos
processos mais simples, como nos mais sofisticados.
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Finalmente ficamos com a batata
quente.
Depois de assada no forno, abra-a e tempere-a com sal, queijo,
manteiga, natas ou o bom azeite,
polvilhe com alguma erva aromática ou com especiaria e coma-a acompanhar o que quiser.
Nota final:
Texto de apoio,
feito exclusivamente para as aulas de gastronomia da Universidade
da Terceira Idade de Torres Vedras, pela professora da disciplina ,
Palmira Cipriano Lopes.
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