AUTITV
DISCIPLINA DE GASTRONOMIA
8ª AULA, 05 de Janeiro de 2015
BEBIDAS QUENTES
CHÁ, CAFÉ E CHOCOLATE
Hoje vamos falar
de chá.
No
mundo ocidental, quando se fala de bebida pensa-se imediatamente em bebidas
alcoólicas, principalmente em
vinho, mas não é assim em todo o mundo.
Para muitos povos, como por exemplo os chineses e os japoneses ao falar de
bebida pensa-se em chá.
O chá é uma planta , cujo nome
científico é: Thea sinensis, da família da camélia.
O
chá começou por ser uma planta selvagem,
encontrando-se ainda reservas da mesma nesse estádio.
Existe uma grande variedade da mesma planta,
mas hoje só a espécie camélia sinensis é cultivada.
O
uso da planta do chá, Thea sinensis, é milenar. Começou por ser usada
medicinalmente a partir da simples infusão das folhas. Com as características de
fermentação, conhece-se a partir do
século VI a VII a. C., mas foi já no século VIII, na dinastia Tang, que foi
feito o primeiro tratado de chá com carácter técnico.
Na Europa o chá só começou a ser
conhecido nos finais do século XVI, com
as viagens de Marco Polo, seguida da chegada dos portugueses ao Extremo Oriente. No princípio do século XVII
o chá chegou a Inglaterra
transportado pelos holandeses, vindo a ser
divulgado e comercializado pelos ingleses.
Conta-se
,a favor de Portugal, que o hábito de beber
chá foi introduzido em
Inglaterra em 1662 pela princesa
Catarina de Bragança, filha de D. João IV,
casada com o rei Carlos II da Inglaterra ( segunda metade do séc. VII).
Teria sido sim Catarina a criar esse hábito na corte, mas só passados 2 séculos, em 1840, a duquesa de
Bedford, aia da Rainha Vitória estabeleceu em 1840 algumas regras de etiqueta,
aprovadas pela rainha, para o serviço do chá da tarde, o famoso «chá das cinco». Foi a partir daí que a
hora do chá passou então a ser uma
ritualidade para a qual a rainha e suas
aias se paramentavam a propósito.
Importa salientar que neste século XIX
a cultura do chá foi extraordinariamente desenvolvida pelo Japão, passando este
a envolver todos os aspectos importantes da vida social daquele país. O
cerimonial do chá estava presente em todas as reuniões, fossem elas de júbilo
ou de pesar. A sua difusão passou para o
resto do mundo, dando origem a um
mercado de grande importância económica.
Voltando
à Europa e ao hábito do chá da
tarde. Este era acompanhado por um
cardápio composto de diversas iguarias, tais como: torradas com manteiga,
pãezinhos com geleia ou mel, marmalade[1]
scones, muffins, uma grande variedade de
biscoitos [2] e
bolos, de onde advém o famoso bolo
vitória.
O
hábito do chá da tarde saltou das portas do palácio real e passou a ser servido também por outras
anfitriãs da nobreza.
Na Europa, a cerimónia do chá
foi durante muito tempo uma bebida
de senhoras da alta sociedade e
só mais tarde começou a ser apreciada pelos homens e a divulgar-se pelas
classes mais baixas, daí também ouvir-se dizer “não tomou chá em pequeno (ou
pequena)”. Actualmente o chá é a bebida
mais consumida no mundo.
Os principais pa´ses produtores são a China e a India , os dois em conjunto
produzem 40% da
produção mundial, a restante
distribui-se por outros países, também dignos de menção como: Argentina, Seri-Lanka, Turquia, Geórgia,
Kénia, Indonézia e Japão.
Na Europa, apenas em Portugal, na ilha de S. Miguel no arquipélago dos Açores, se produz uma ínfima parte, cerca de 40 toneladas ano, dos 234 milhões produzidos no mundo.
Chá Gorreana, S. Miguel , Açores |
Na Europa, apenas em Portugal, na ilha de S. Miguel no arquipélago dos Açores, se produz uma ínfima parte, cerca de 40 toneladas ano, dos 234 milhões produzidos no mundo.
Variedades
de chás; no mercado aparecem chás com diversas cores e sabores que são normalmente produto da mesma planta, Thea sinensis,
apenas com sabores diferentes que lhe são adicionados, como por exemplo, chá de
jasmim, chá de maçã, chá de rosas, etc.
De
onde provem o étimo de Chá ou de Tea?
Ambos, chá ou tea, provêm do mesmo étimo
chinês, só que pronunciado em dialectos diferentes, enquanto chá
deriva do malaio e é usado por muitos
países incluindo Portugal, tea deriva do cantonês e mandarim e é usado noutros tantos países.
Vimos
que a planta do chá tem o nome
científico de Thea sinensis, logo o
nome derivado de tea está mais perto
do científico.
Então e a tisana? Não podemos deixar de
abordar a tisana, quase sempre chamada de chá.
A
tisana é uma infusão de ervas que tem a
mesma idade do chá,como vimos atrás, também
ele começou por infusão de ervas, até que o imperador chinês Shen Nung (século III a. C) descobriu as virtudes mediciais
da Caméllia thea ( planta do chá). Concluímos então que tisana poderá advir de thea, no entanto, a sua designação está hoje mais associada à
forma de preparação e ao fim medicinal que à matéria da origem.
A
tisana é uma infusão sim, mas não
apenas. Enquanto a infusão, tal
como o chá, pode ser obtida a
temperaturas mais ou menos elevadas, conforme a variedade e maturação da
planta, a temperatura da tisana chega
sempre à ebulição, nalguns casos durante mesmo alguns minutos até a fervura extrair os princípios activos das plantas.
A
tisana é , regra geral, feita com
plantas medicinais tomadas com fins
terapêuticos, mas também tomada como
prazer de tomar uma bebida quente
extraída de infusão de plantas.
Não
é comum, parece nem soar bem ouvir dizer
tisana quando se pretende tomar uma aconchegante bebida quente e aromática. O
chá impôs-se e não ofende ninguém quando se diga, por exemplo, chá de erva
cidreira ou chá de camomila, ou chá de limão ou de qualquer infusão.
A respeito
de chás e tisanas, encontramos
uma boa leitura, informativa e deleitante, na obra de Zélia Sakai, Chá
das Cinco Estações, Sete Caminhos, 2006.
Para concluir esta aula vamos ficar com
duas receitas de iguarias para acompanhamento
do chá. A receita do famoso Bolo
Vitória, da corte da Rainha Vitória e a de
Muffins do mesmo tempo.
Para concluir esta aula vamos ficar com
três receitas de iguarias para acompanhamento
do chá: - A de Scones,
a de Muffins e a do famoso Bolo
Vitória, todas componentes do célebre «chá das cinco» servido na corte da Rainha Vitória.
SCNONS
Os scones são os
bolinhos de origem escocesa que datam do princípio de século XVI. Originalmente
ram feitos de aveia e cozidos na chapa.
O nome significa
pão bonito, eles são na realidade
uma espécie de pão de confecção rápida, bem apaladados e de bonito aspecto.
SCNONS SIMPLES, RECEITA
Ingredientes:
250g de farinha de trigo, 30g de
açúcar, 2,5dl de iogurte natural *, 50g de
manteiga ou margarina, 1colher de chá de fermento em pó, 1 pitada de
sal.
*Pode
substituir-se o iogurte por leite
ou, melhor ainda, por soro de
leite escorrido do iogurte feito em casa.
Confecção:
Prepara-se um
tabuleiro, polvilhado com farinha, também pode ser forrado com papel vegetal,
neste caso também ligeiramente untado com gordura.
Liga-se o forno a
temperatura de 200 a 220ºC.
Misturam-se os ingredientes numa tigela, junta-se a manteiga ou margarina e
amassam-se, junta-se o iogurte e o leite aos poucos e amassa-se
o suficiente para a massa ligar.
Estende-se a massa,
com um rolo ou com as mãos, com cerca de
2 cm de espessura.
Para tender
pode proceder-se de diversas maneiras: - Corta-se a massa com
um corta massas e coloca-se no tabuleiro. Também pode corta-se
a massa com uma faca aos quadrados ou aos losangos, ou enrolar
os pedaços de massa em forma de
bola com as mãos, ou simplesmente retirar-se pedaços de massa, arredonda-los e dar-lhe um golpe em cruz .
Estes diferentes
processos de tender são os mesmos scones,
variam apenas no feitio.
Qualquer que seja a
variante, a massa é colocada no tabuleiro e levada ao forno a cozer durante cerca de 15
minutos , quando os scones se apresentam crescidos e lourinhos, tocasse-lhe
com as pontas dos dedos, se o toque soar a seco estão cozidos.
Antes de irem a
cozer, pode pincelar-se com leite ou com ovo batido.
Depois de cozidos
retiram-se do forno colocam-se em cima de uma rede para receberem arejamento ao
arrefecer e podem servir-se de imediato.
Variantes de scones
Pelo mesmo processo pode fazer-se diversos scones: - de soltanas, de queijo, de
especiarias ou de aromas, apenas juntando estes ingredientes à massa.
Os scones são muito versáteis, podendo servir-se
de diversas maneiras e em diversas ocasiões. Ficam enriquecidos se forem
abertos e barrados com manteiga ou com compota e também como base de patés e
outras iguarias para lanches.
MUFFINS
Os muffins
têm origem nos scones, são uns bolinhos, pequenos e fofos, cujo nome se pensa que tenha
derivado do francês moufflet que quer dizer pão
macio e fofo. No entanto a sua
divulgação fez-se a partir de Inglaterra
para várias partes do mundo, no princípio
do século XVIII.
Podemos faze-los de todos os feitio, cores e sabores. Enformados em pequenas formas de queques ou em tabuleiros com cavidade apropriada para eles, colocados em forminhas de papel ou simplesmente moldadados à mão e colocados num tabuleiro.
Quanto a sabores, eles podem ser doces ou salgados, simples, com frutos secos ou frescos, ou com aromas de ervas ou especiarias.
Os seus apreciadores recomendam-nos quentes, simples ou barrados com manteiga, a acompanhar bebidas quentes nos dias frios de inverno.
A receita que se segue, é a básica, mas os muffins podem variar até nos ingredientes básicos como a farinha que pode se fina, integral ou até mesmo flocos de aveia, o leite pode ser substituído por iogurte, podendo misturar-se também um pouco de cacau ou chocolate.
Algumas imagens de diferentes muffins
Ingredientes para a receita básica:
225gde farinha de trigo, 50g de açúcar, 1 colher de sopa de fermento em pó,1 pitada de sal, 1 ovo, 2dl de leite, ½ dl de óleo.
Já temos os ingredientes básicos, vamos confeccionar os muffins.
Untamos uma forma de muffins, ah! não tenho. Não faz mal, as de queques também servem, estão untadas, ficam de lado, podem ainda colocar-se em forminhas de papel igualmente untadas, ou mesmo em bolinhas moldadas à mão e colocadas no tabuleiro.
Para a massa:
Misturamos bem a farinha com o açúcar, o fermento e o sal. Batemos ligeiramente o ovo, juntamos-lhe o leite e o óleo e misturamo-los.
Juntamos este preparado aos ingredientes secos e mexemos o suficiente para humedecer a massa. Depois da massa feita, que não deve ser muito amassada, distribuímo-la pelas forminhas (ou pelos processos atrás referidos), colocamo-las num tabuleiro e levamo-las ao forno bem quente (cerca de 200º C) durante cerca de 20 a 25 minutos.
Vigiamos o forno e quando os muffins nos parecerem cozidos, tocamos-lhe com a ponta dos dedos para encontrar a percepção do ponto da cozedura. Se não temos muita segurança com a percepção pelo tacto, então testamos com a técnica do palito, se depois de espetado no bolinho o palito sair seco está a prova feita.
E agora vamos servi-los enquanto estão quentes.
[1] Marmalade é hoje um dos doces de fruta mais apreciados em Inglaterra, deriva da marmelada portuguesa, mas é feito com laranja.
[2] A título de curiosidade se refere que , apenas no livro de Pantagruel, na 71ª ed., aparecem 100 receitas de bolinhos finos, tipo biscoitos. Os biscoitos, são uns bolinhos secos de origem francesa «bis cuit» que quer dizer, cozido duas vezes.
Ingredientes:
Para a massa:
225g
de farinha, 2 colheres de chá de fermento em pó, 250g de açúcar areado, 4
ovos grandes
(≈ 240g), 225g de manteiga sem sal
(≈ 240g), 225g de manteiga sem sal
Para o
recheio:
200g
de queijo mascarpone, 250g de açúcar em
pó, 60g de manteiga sem sal, 250g de doce de morango (compota ou geleia, podendo ser também de outros frutos frecos), 250g dos mesmos fruto.
Como é que vou fazer:
Bato os ovos
inteiros com o açúcar, junto a farinha aos poucos, peneirada com o fermento, junto a manteiga amolecida e a baunilha e mexo muito bem.
Numa
forma redonda com cerca de 25 cm de diâmetro e altura suficiente para a massa
ficar até máximo de 2/3, untada e forrada com papel vegetal, também untado,
deito a massa e levo ao forno previamente aquecido a temperatura de cerca de
180ºC durante cerca de 40 minutos. Quando o bolo se apresentar dourado e seco, experimento com
um palito, se este sair seco posso retira-lo do forno e deixa-lo arrefecer
dentro da forma.
Quando
estiver arrefecido, desenformo. Para desenformar posso inverter a forma e
retirar o bolo para dentro de um prato, mas eu deitei-o na forma sobre papel
vegetal, então vou aproveitar esse papel, puxo-o pelas pontas e desenformo o bolo juntamente com o papel.
Com uma faca fina e bem afiada, abro-o
ao meio no sentido horizontal e separo as partes.
Enquanto
o bolo coze e arrefece preparo o
recheios pelo seguinte processo:
Levo
a manteiga ao lume com o açúcar, posso juntar, ou não, umas gotinhas de
essência de baunilha, mexo muito bem,
junto o queijo e volto a mexer até obter um creme homogéneo, liso e fofo ( pode ser com a varinha mágica, embora no
tempo da Rainha Vitória não existisse esse instrumento ). Com este creme barro
a metade da parte inferior do bolo e deixo-o ficar.
Tenho
o doce preparado (compota ou geleia) bato-o com a varinha
mágica até ficar cremoso e deito-o por cima da metade do bolo recheado.
Coloco
a metade superior do bolo sobre aparte inferior recheada e ajusto bem. Polvilho
com açúcar em pó e posso colocar alguns frutos frescos por cima e de lado.
O
bolo está pronto e é muito bom, ah! mas se eu o quiser mais enriquecido, por
exemplo, para uma festa de anos, posso
cobri-lo com uma cobertura que
vai encantar.
Mas aonde é que eu hei-de ir encontrar
uma cobertura para o meu Bolo Vitória?
Bom, se eu for à internet encontro um sem fim de coberturas para bolos,
mas qual delas usar?
Já sei!
quando quiser cobrir o meu bolo faço uma cobertura simples de açúcar que
nem precisa de receita.
Cobertura:
Peneiro
250g de açúcar em pó, junto-lhe uma colher de chá de sumo de limão,
outra de glicerina e outra de água que vou deitando às gotas pequenas e mexendo
até obter uma massa lisa, mas consistente.
Estou a pensar, como o bolo é bem grande,
tenho que aumentar a receita, o melhor é mesmo fazer o dobro, assim sei que o
meu bolo vai ficar bem coberto e sem problema.
No final da cobertura junto então os frutos. Um primor!
Ah, mas
tenho que o comer com alguma parcimónia, porque uma fatia de 100g contêm
354 calorias. É só nas festas, e que não
sejam muitas!
Mas como sei eu quantas calorias tem o
bolo? - Isso é assunto para a próxima
aula, ok!
Nota final:
Texto de apoio feito exclusivamente para apoio das aulas de gastronomia da Universidade da Terceira Idade de Torres Vedras, pela professora da disciplina , Palmira Cipriano Lopes.
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