terça-feira, 28 de outubro de 2014

AUTITV DISCIPLINA DE GASTRONOMIA


AUTITV

DISCIPLINA DE GASTRONOMIA

2ª AULA, 27 de Outubro de 2014

A  ALIMENTAÇÃO  NAS  GRANDES   ETAPAS  DA  HISTÓRIA  DA  HUMANIDADE




 O primeiro antepassado do homem, que se conhece teria sido o australopitecus (austra, austral (sul)  e pitecus macaco, que quer dizer macaco do sul). Este, que teria surgido há cerca de  3,9 milhões de anos,  não passava  de um  primata
A sua alimentação resumia-se  a vegetais silvestres ( frutos , bagas, nozes, rebentos, bolbos e raízes) e a pequenos  animais,  como: insectos, larvas, vermes, ovos, repteis  e pequenos mamíferos, que recolhia na natureza.
Quando  começa a mudar a sua posição de quatro patas para a posição vertical, o homo  erectus. Este homo  erectus  viveu  entre  1,8  milhões  e 300 mil  anos atrás. A nova postura  trouxe-lhe grandes vantagens e tudo passou a ser diferente. Fica com maior ângulo visual, chega aos frutos mais altos, fica com  as mãos disponíveis, recolhe o mel das abelhas silvestres e pode arremessar pedras para caçar animais de maior porte.
Com a actividade da caça, exerce mais actividade física e exercita os sentidos, torna-se mais fecundo  e,  por tudo isso, também aumentou a população.


Quando chega a este estádio,  desce
das árvores, seu habitat inicial, e passa a habitar em cavernas,  abrigado do frio e dos animais selvagens.
 É nesta fase que se organiza em grupo para caçar e aproveitar a caça.
 Parece advir  dessa altura o desenvolvimento da fala  e o domínio do fogo.
Com a  organização em  grupo começa a distribuir papeis  e estabelecer hierarquias.




O  fogo foi  tão importante para o desenvolvimento da humanidade, que sobre ele  existem várias lendas  e suposições de como o homem o teria começado a dominar. Uma delas conta que  ao fabricar os utensílios de pedra  para caçar, o fabricante  deixou passar alguma faúlha quando o martelo de pedra  batia noutra pedra e teria incendiado folhas secas que se encontravam próximas, será mais uma lenda. Verdade é que o fogo sempre existiu, emanado dos vulcões e provocado pelos raios das trovoadas,  apenas não era dominado. É bom lembramo-nos que  os fósforos só foram inventados  em 1779. Até aí as populações já dos nossos tempos, ainda tiveram que saber fazer lume por fricção e conserva-lo aceso.
Depois do domínio do fogo
tudo mudou. Além  da utilização para cozimento dos alimentos, ele foi utilizado para aquecimento do ambiente, naquela época glacial, e também para iluminação e afastamento de predadores selvagens.






Quanto aos alimentos,   a carne que  antes era comida crua, passou a ser assada sobre brasas ou cozida em água fervente. Foi um grande avanço quer quanto à deglutição, quer quanto ao sabor e conservação.
Para assar, a carne  era colocada sobre as brasas e rompidos os tecidos da mesma pela acção do calor. Já para cozer em água, uma vez  que na altura ainda não havia fabrico de utensílios de cozinha,  o cozimento  era feito dentro de uma pele de animal suspensa sobre o lume, como  a pele continha água dentro,  esta aquecia e não queimava.
Esta  prática foi usada na Irlanda ainda no século XVI e  até há  bem pouco tempo estes coziam o pão no vapor natural  das nascentes  de água em ebulição.


 Conhecemos idêntica situação com o cozido das furnas nos Açores.



 Mais próximo  ainda temos   o cabrito estonado  de Oleiros, no distrito de Castelo Branco, embora este não seja cozido, mas assado no forno sem ser esfolado, enquanto  na prática primitiva  o animal era esfolado, cortado aos bocados e cozido em  água fervente dentro da própria pele  suspensa  por dois paus sobre o lume.







 Com a introdução da caça em grupo,
o homem melhorou a alimentação e com isso modificou a estrutura física e desenvolveu o cérebro.




Há cerca de 200 mil anos atrás  surgiu   a espécie  homo sapiens, originária  do género hominídeo,  então mais próximo do homem, que ainda hoje existe em algumas partes de mundo.




Coexistente com o homo sapiens  na  mesma época Homem de Neandertal, espécie  extinta  que viveu na Europa  e  parte oeste da Ásia. Este hominídeo é, para alguns autores, uma subespécie do homo sapiens, para outros uma espécie diferente , num caso ou outro, o que parece não haver dívida  é que ele  ( o Homem de Neandertal ), seja o  precursor da humanidade de  hoje.
entre,  350 a 29 mil anos atrás, existiu o






Estas espécies  hominívoras, herdeiras dos primatas, já vivem organizadas em grupo e criam  práticas de trabalho e convivência que fazem leis.  Essas leis, chamadas  consuetudinárias, ou consentidas, constituem  aquilo a que hoje chamamos  costumes.
Os costumes  eram e, para os que ainda existem continuam a ser, respeitados  por todos,   cada um  sabe qual é o seu papel dentro do grupo, papel que  aceita, aceitando também  livremente  que a melhor parte seja para o chefe que é sempre um ancião.

Chegado a este estádio  evolutivo, o homem começa  a fazer cálculos, a distinguir os vegetais  comestíveis dos múltiplos venenosos e a tornar-se sábio da floresta.

 O uso da carne, levou também ao uso do sal e, se este é um importante conservante da carne, parece não ter sido  o principal motivo do seu consumo, mas antes  porque  a carne  já tendo o seu próprio sal,  o homem se habituou  a ele, ao ponto de não o poder dispensar.


O sal chegou a ser de tal maneira importante, que foi  usado como moeda.




Com o aparecimento do fogo  e o cozimento de alguns alimentos principalmente para decocção de caldos para velhos e doentes,  o homem começou  desde   esse tempo  até hoje a  apreciar os alimentos cozidos. A carne fica mais tenra por rompimento dos tecidos, conserva-se mais tempo e  melhora a apresentação e o sabor, embora alguns povos continuem a comer peixe e carne crus e fazer sucesso gastronómico com essas iguarias.

                             
                    Caso do   Sushi dos japoneses   »»»»»»




                                    e do







 ««««««  Bife tártaro dos eslavos.









A fritura, também  não é moderna ,  dela encontram-se registos desde o século XVIII a.C., porém muito recente comparativamente com a sua suposta descoberta que terá a idade da descoberta do fogo, no decurso do homo - erectus.





Este teria descoberto  a fritura  com o uso de pedras quentes colocadas na água, as pedras ferviam a água e  coziam os alimentos , daí à verificação de que   a gordura atinge  temperaturas mais altas que a água foi um passo.



O  aparecimento do fogo  dá origem à fundição de metais
  e ao fabrico da caldeira.














Foi também o fogo que deu origem ao vidro que parece ter  advindo do ateamento de uma fogueira feita ocasionalmente   na praia por mercadores fenícios. O calor derreteu a sílica contida na areia  juntamente com blocos de soda que estes traziam na carga, daí  resultou uma substância transparente  a que hoje chamamos vidro.





Com estes avanços, durante a época do homo sapiens, nasceu o que já se pode chamar de  cozinha.



O surgimento da caldeira para cozinhar foi o caminho
para a criação daquilo a  que hoje chamamos  de  laboratório que deu incremento aos estudos  da descoberta de grande parte dos fenómenos científicos.




Verificamos, a partir da descrição das grandes etapas da história da humanidade  que  a alimentação esteve sempre na base  do seu desenvolvimento, sendo os efeitos  da cozinha  os principais  responsáveis  pela passagem  do  estado  animal do homem ao outro lado mais  humano.



              





















 SUSHI



                     De uma longínqua e sóbria origem para uma tão sofisticada modernidade


Ao falar em sushi que no texto veio a propósito, e porque hoje está tanto na moda, pareceu-me que deveria dizer mais alguma coisa sobre ele. Então cá ficam umas linhas acompanhadas de uma  imagem , ambas retiradas da internet, onde também podemos encontrar várias receitas desta iguaria gastronómica  do Japão, as quais  se  afigura   serem atributos muito próprios  dos japoneses.
O sushi é uma comida de origem japonesa e partiu de uma forma muito primitiva de  comer o peixe, ou carne  com arroz em fermentação de vinagre. 
Em    diversas  referências ao sushi, verificamos eu  a forma com ele  se apresenta  hoje na cozinha japonesa é tão diferente  do original como próprio nome, quase impronunciável pelo alfabeto latino.
Até  mais ou menos ao século XVII  o peixe era fermentado com o arroz e conservado. Só a partir desse período o peixe passou a ser fresco  e envinagrado, chamava-se então hayazushi .
A partir de finais do  século XVIII, o peixe, que já era usado fresco,  deixou de ser fermentado e passou a ser prensado ficando  rapidamente. Foi já no século XIX  que  começou a ser conhecido e apreciado no ocidente, então com o nome abreviado de sushi.





  BIFE TÁRTARO


             Antes cru do que com suor de cavalo

O bife tártaro é um bife de lombo de novilho,  picado finamente  com faca, temperado com vários condimentos e servido com uma gema de ovo também crua.
É muito  famoso e tão apreciado por uns com detestado por outros.
Mas  o bife tártaro não é famoso  apenas por ser uma iguaria muito apreciada por muitos, tantos que quase  daria para fundar a confraria do bife tártaro. É expressivo  dos seus  fãs  a frase, « Antes cru do que com suor de cavalo».
Ao tártaros eram povos  bárbaros da Ásia Central conhecidos pela sua valentia e também  crueldade,  talvez  por isso lhes  foi atribuído o costume de comerem carne crua.
Conta-se sobre o bife,  que  quando estes aguerridos cavaleiros iam de viagem  ou em incursões  de guerra, colocavam uma peça de carne que podia ser de cavalo ou de  bovino,  por baixo da cela do cavalo em que iam montados.
Enquanto caminhavam, por vezes um dia inteiro, a trote ou a galope, o corpo  suado do cavalo  batido contra a cela, deixava a carne tenra  e quase passada , depois era só tempera-la com algumas ervas que  lhe disfarçassem  o cheiro e certamente o sabor.      
Esta  história, contada sobre o bife tártaro, é mais  uma historieta ou lenda ou o que for, a questão  é que   ela é  muito conhecida.
Os factos investigados pelos historiadores, passam-se de outra maneira.        
Conta então a História que os  Tártaros eram um povo nómada  que começou a chegar no princípio  do século XIII à  região que é hoje a  Rússia.
Quando em 1480 Ivã  III  anexa  os diversos principados  que vão  formar  o império Russo,  abre  a Rússia  à cultura ocidental  e  começa  a estabelecer  relações comerciais com o ocidente.  
Os  alemães  foram os primeiros intervenientes comerciais com a Rússia,   por isso , somos  levados   a crer que  foram  eles  a iniciar  os hábitos  dos tártaros de cozinhar  carne picada  e a trouxeram  para a  Europa ocidental.  Não apenas o bife, mas outros picados de carne, como por exemplo  o hambúrguer .
O  bem popular hambúrguer,  lançado no mundo inteiro pelos  americanos, foi inicialmente   produzido pelos alemães em  Hamburgo.        
A jeito de conclusão e como remate do bife tártaro:
 O homem  primitivo, antes de descobrir o fogo, alimentava-se de vegetais e de  carne  crua. O  homem  moderno    depois dos mais sofisticados cozinhados opta pela carne crua com vegetais.


CABRITO ESTONADO DE OLEIROS





Como é que os oleirenses  preparam o tradicional cabrito.


Em primeiro lugar, dispõem de um  cabrito  vivo com menos de 3 meses. Abatem-no, sangram-no  e escaldam-no por partes com água a ferver. À medida que vão escaldando, vão  arrancando os pelos com um pano grossa e com muito cuidado para não rebentar a pele que deve ficar com aspecto de pele de leitão.
            



 Prato  emblemático de Oleiros


Depois de estonado, fazem-lhe  uma pequena abertura na barriga por onde lhe retiram as vísceras, lavam-no  e põem-no a escorrer de um dia  para o outro. No dia seguinte barram-lhe o interior com  uma pasta feita com alho, banha, vinho branco, sal e pimenta.
Cortam os miúdos em bocadinhos pequenos, misturam-lhe um pouco da pasta preparada, recheiam o cabrito  e cosem a abertura com agulha e linha.
Barram-no por fora  com a mesma parta e levam-no ao forno bem quente, numa assadeira sobreposto em paus de louro.
Quando estiver tostado da parte de cima, viram essa  para baixo e deixam tostar a outra. A pele deve ficar tostada e estaladiça como a do leitão, podendo para isso ser borrifada com vinho branco gelado.

Algumas referências a Oleiros:

O concelho de Oleiros, situa-se  na província da Beira Interior, no distrito de Castelo Branco.
É uma região de montanha e floresta , onde o gado caprino e ovino faz parte da paisagem e da economia local.
O uso do cabrito estonado, segundo discrição no site do município de Oleiros, terá algo a ver com os antigos povos mediterrânicos.  Os oleirenses  recomendam o acompanhamento do prato com hortaliças locais e vinho  calum   proveniente de uma casta local.


BROAS DE TODOS OS SANTOS
(Pão por Deus, dia 1 de Novembro)


Ingredientes:
 1kg de farinha de trigo,  50g de fermento de padeiro,1 colher de chá de bicarbonato, 50 a 80g de erva doce, 500g de açúcar, 200g de margarina, 1/2 dl de azeite,100g de nozes, 50g de pinhões, casca de 1/2 limão, 1dl de água (aproximadamente), 1 pitada pequena de sal.

Confecção:
Ferve-se a casca de limão na água, deixa-se arrefecer até ficar morna.
Deita-se  num alguidar a farinha, o bicarbonato, a canela, a erva doce, o sal, o fermento desfeito na água morna da fervura do limão e a margarina amolecida.
Misturam-se  todos os ingredientes e começa a amassar-se ligando-os bem até humedecerem, se for necessário vai-se deitando pequenas gotas de água, mas com muito cuidado, porque a massa deve ficar homogénea, mas dura.
Quando a massa se começa a despegar das mãos e a ficar um pouco rendada e elástica, é sinal de que  está pronta.
Nesta altura juntam-se as frutas envolvem-se bem na massa, faz-se uma bola no próprio alguidar, cobre-se com um pano de algodão branco, abafa-se com um cobertor e deixa-se a levedar em ambiente moderado e estável durante umas duas a quatro horas.
Depois da massa lêveda, retira-se  do alguidar, separam-se pequenos bocados que se moldam, com as palmas das mãos, em forma de pequenas bolas, que se colocam num tabuleiro previamente untado e forrado com papel vegetal, também untado  e polvilhado com farinha.
Leva-se o tabuleiro ao forno previamente aquecido, a temperatura de 200º durante 20 a 30 minutos, passando a meio da cozedura para mais baixo. ( se for em forno de lenha, conforme com a tradição, aí é necessário haver alguma experiência do forno.
Quando  cozidas  retira-se  o tabuleiro do forno e colocam-se as broas sobre uma rede ou diagonalmente noutro tabuleiro, sobre  um pano até arrefecerem.

Depois de frias podem sobrepor-se e guardarem-se, até três a quatro semanas em recipiente bem fechado, para que não amoleçam.



Obs:
Estes bolinhos, tradicionais da região saloia, chamados  broas, datam da antiga civilização pagã, que celebrava  a festa equinocial  relacionada com as colheitas em louvor aos deuses, sobretudo ao deus sol, mas também  à formenta, deusa do pão.  A igreja católica instituiu em seu lugar a festa de todos os santos, tocada pela devoção aos finados. Conservando-se da antiguidade o agradecimento pelas colheitas, expresso pelo gesto caritativo do «Pão por Deus» que se dá e se recebe. 


ERVA   DOCE
( O  ingrediente das broas de Todos os Santos) 


A erva doce é o principal condimento das broas da
quadra de todos os santos, poderia mesmo chamar-se a essas broas,  bolos de erva doce.
A vulgar erva doce, assim conhecida em especiaria embalada no comércio, é oriunda  da bacia do Mediterrânico e habita entre nós  conhecida também com o nome de funcho.  A erva doce é conhecida também, noutras regiões por  anis doce, finóquio  e maratro, sendo o seu nome científico  Foeniculum vulgare Mill, Mill por lhe ser atribuído o nome do  botânico que a classificou, Mileu.
 É uma planta herbácea, perene,  muito vulgar na região sul de Portugal, onde se encontra mais influência da florística  mediterrânica. Contém um  acentuado aroma, sendo por isso muito usada na confecção de bolos e bebidas e,  insubstituível nas broas de todos os santos. A  Foeniculum vulgare Mil, tem grande semelhança aromática com  a Pimpinela anisum, conhecida por anis e também por erva doce, mas de aspecto morfológico  muito diferente.
            Do  funcho (erva doce) retira-se  raiz, caule, folhas e frutos, qualquer das partes da planta são usadas  conforme com  a sua finalidade. Do caule e folhas pode fazer-se sopa, aromatizar saladas e pratos de carne ou peixe, bem como cozinha-los em  estufados ou guisados. Da raiz pode fazer-se decocção, tisana, a que vulgarmente se chama  chá, pode também torrar-se  e moer para condimento. Das sementes inteiras  faz-se o chamado chá, aromatizam-se alguns cozinhados como as castanhas cozidas fazem-se licores e se  aromatizam-se  cremes de pastelaria.
            Mas,  para além de condimento, o funcho  tem virtudes alimentares e até medicinais conhecidas de tempos remotos e ligadas a diferentes civilizações como a romana, a chinesa ou a indiana.
São conhecidos da história  os seus efeitos dietéticos contra a obesidade, sendo ainda hoje o seu  chá  recomendado  para esse efeito.
Como alimento, o funcho é  rico em fibras e pobre em calorias, logo indicado para dietas pouco calóricas.
O chá da semente de funcho, para além de uma agradável bebida, é um tranquilizante recomendado pela medicina ao longo dos séculos, para tratamento  de insónias e de vários problemas de saúde.
 Existe uma basta literatura sobre as virtudes desta planta, usada por  conhecidas personalidades ao longo da historia da civilização humana.



Bibliografia consultada:História da Humanidade, Círculo de Leitoores. Comida e C ivilização, Carson I.A. Ritchie , tr. de José Labaredas, Assírio e Avim; Gardé, Alberto e Nydia, Culturas Hortícolas, Livraria Clássica Editora, Internet, sites diversos sobre história da alimentação.

Nota  final:
Texto  de apoio  feito exclusivamente   para apoio das aulas de gastronomia da Universidade  da Terceira Idade de Torres Vedras, pela professora da disciplina , Palmira Cipriano Lopes.



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3ª Aula, 03 de Novembro de 2014


OS BENEFÍCIOS   E OS MALEFÍCIOS  DO DESENVOLVIMENTO  HUMANO






O desenvolvimento humano não se deu ao mesmo tempo no universo da terra, uns grupos evoluíram mais  sedo, outros mais tarde e, ao longo das grandes etapas da história, uns foram completamente extintos, outros ainda existem  mantendo  os comportamentos de ancestralidade, tendo a grande maioria evoluído   para  o  numero  mundial  da  população que  conta actualmente com 7 biliões  de indivíduos[1].









A caça em grupos organizados, pelo  homo sapiens





assim como a agricultura de queimada
vieram depauperar os terrenos inicialmente férteis e desalojar os animais.







O homo sapiens, já com um desenvolvimento cerebral mais avançado, criou todo o tipo de armas  engenhosas: arpões, lanças com bico, redes de pesca, armadilhas, arcos e flechas envenenadas, coordenadas com técnicas mais ou menos ordenadas  para aumentar as fontes de alimento.
Com estes meios o homem  passou a  aumentar a colheita de alimentos, superiores mesmo às suas necessidades alimentares.

 Chegando a caçar grandes quantidades de animais pelo sistema de encurralamento  os quais obrigava a despenharem-se e morrer, sem que grande parte deles fossem aproveitados.


Numa pequena localidade de  França, Solutré,  na região de Borgonha,  foram descobertos restos de mais de 100 mil cavalos, cuja carne foi desperdiçada por excesso.[2] Estas capturas causaram desastrosos desperdícios, características dos homens  que não diminuíram com o passar dos tempos.
Estes novos procedimentos, na procura de alimentos vieram reduzir cada vez mais  a abundância  dos mesmos  e aumentar  a escassez,  até aí não sentida.





 Foi então a abundância , talvez mais que a carência, a responsável pelo início das guerras. 







 A luta pelo poder,  quer da terra, quer da caça, ambas destruídas  pela ganância dos homens,  levou os mesmos a lutarem por elas, pois que cada vez era necessário uma maior extensão territorial para se obter os alimentos necessários.
O homem , com o seu pacifismo,  caçando e colhendo, com armas rudimentares,  apenas o que precisava para se alimentar, foi aniquilado pela nova era com nova tecnologia potenciadora de guerra pelo poder de aumento da terra.
Os mesmos acontecimentos  têm vindo a  repetir-se, havendo povos  no mundo mais recente que foram completamente exterminados pelos mesmos motivos. Temos mais perto do nosso tempo, o mesmo fenómeno, passado, por exemplo,  com os índios e cowboys, tão projectado nos cinemas de há meio século.

Não obstante  o desenvolvimento, usado na procura de bens de subsistência, tenha sido o causador  das primeiras e continuadas guerras, as quais têm dizimado populações inteiras e continuam  e gerar horrores,  ele também trouxe inegáveis benefícios .


O desenvolvimento criou novas ferramentas e  técnicas agrícolas com as quais aumentou a produção,



                       
             2ª revolução agrícola, sec. XVIII
domesticou os animais, alguns para  trabalho, outros  para alimentação  e ainda outros e alguns dos mesmos para uma  os dois fins e mais  extracção de produtos dos mesmos, como leite  para fabrico do queijo e da manteiga, porque o leite em natureza  é um  tipo de alimento recente.

 O porco,  que antes de   ser submetido ao sacrifício para fornecimento da carne, já foi  limpador de ruas em algumas  cidades.








O  cão que sendo também consumido como carne em algumas civilizações

 foi e é um grande prestador de serviços, antigamente como puxadores de trenós 
nas  regiões geladas, antes  destes serem motorizados,  também já passou pela profissão de limpador de chão, apanhando os restos que de outro modo se tornavam insalubres,















continua a exercer a profissão de pastor, polícia,  guarda e fiel companheiro.

O homem domesticou o cão a partir do lobo  conhecedor que era da fidelidade deste à alcateia.




 Pensa-se  que o mais antigo cão domesticado  date de 7500 anos a.C. e seja proveniente da Síria.
Além destes animais, o homem domesticou muitos outros, incluindo aves e pequenos roedores, todos eles muito diferentes  originalmente do que são hoje.
  O percurso de desenvolvimento, ocasionou  novos processos de conservação, tais como, por exemplo
 a salsicharia                                                                                     os enlatados
                             Industria  de enlatados e de salsicharia , séc. XVIII e XIX
 os liofilizados (caso do puré de batata, do leite em pó, dos ovos em pó, etc.),
 transformação  e armazenamento dos diversos  produtos alimentares  e  o  desenvolvimento  culinário , tornando os alimentos mais digeríveis e mais saborosos.
Por tudo isto a população aumentou exponencialmente, criando o ciclo giratório:

 Se mais abundante e melhor é a alimentação, maior é o   aumento da  população;
 se maior é o  aumento da população, maior é a  necessidade de bens alimentares.






O fenómeno do homo sapiens pode trazer-se até aos nossos dias,  porém temos que lhe acrescentar outros parâmetros, de qualquer modo a luta dos homens tem sido sempre pelo ter e pelo poder, a começar pelos bens alimentares.



















Nota  final:
Texto  de apoio,  feito exclusivamente   para apoio das aulas de gastronomia da Universidade  da Terceira Idade de Torres Vedras, pela professora da disciplina , Palmira Cipriano Lopes.

Bibliografia: História da Humanidade, Círculo de Leitoores. Comida e C ivilização, Carson I.A. Ritchie , tr. de José Labaredas, Assírio e Avim, Internet, sites diversos sobre história da alimentação.

CULINÁRIA








Como tudo lembra no seu tempo, vamos às castanhas




SOPA DE CASTANHAS

Ingredientes:
( para 2 litros de sopa, 4 doses)

Castanhas (miolo)       800g
Batatas                                   500g 
Cebola                        200g
Alho francês                 200g
Azeite                         ½ dl
Erva doce                   1 c/ chá
Sal                               q.b.


 kcalorias por dose ≈ 590




Confecção:
Descasca-se e corta-se a cebola e o alho francês em pedaços.

 Dá-se-lhe uma ligeira fervura no azeite, acrescenta-se água e deixa-se ferver um pouco.

Seguidamente juntam-se-lhe as castanhas ( podem ser congeladas), descascadas, deixando algumas para juntar esmagadas,  acrescenta-se água e deixa-se cozer.

Tritura-se com a varinha mágica, acrescenta-se água até à medida de sopa, tempera-se com o  sal e com a  erva doce.
Jntam-se as castanhas que se reservaram esmagadas, deixa-se levantar fervura e  retira-se do lume. 












 


LOMBO DE PORCO COM CASTANHAS



Ingredientes:

Lombo de porco                     1kg
Castanhas (miolo)                  800g
Batatas miúdas                       500g
Azeite                                     1dl
Vinho branco                         2d
Massa de pimento                  50g
Dentes de alho grandes          2
Cebola                                    100g
Erva doce em grão                 50g

kcalorias por 100g ≈ 146


Confecção:

Faz-se uma marinada  com o vinho, o azeite, a massa de pimento e o sal(cuidado porque a massa de pimento já é salgada), envolve-se o lombo nesta marinada e deixa-se repousar por um mínimo de 4 horas.

 Seguidamente coloca-se num tabuleiro, rega-se com a marinada e leva-se ao for moderado.
 Vai-se vigiando e regando com o próprio molho e com água que se ferveu juntamente com  a erva doce.
 Quando estiver a meia cozedura, vira-se a carne no tabuleiro e  juntam-se as batatas  pequenas descascadas e inteiras.

 Quando a carne e as batatas estiverem quase cozidas juntam-se as castanhas cozidas (podem ser congeladas).

Deixa-se apurar e retira-se do forno.





BOLO DE CASTANHAS










                  
Ingredientes:
            Castanhas (miolo)       300g   
            Açúcar                                    250g
            Mel                             60g                 
            Farinha                       50g
            Ovos                           6
            Canela                        1 c/ sobrem.   
            Fermento                    1 c/ café
            Marg. p/ untar             25g

kcalorias por 100g ≈ 312

Confecção:                                       
Unta-se  uma forma  e forra-se com papel vegetal, também ele ligeiramente untado.
Lavam-se as castanhas, golpeiam-se e cozem-se (cerca de 400g de peso crua com casca), descascam-se passam-se pelo passe vitte e aguardam.

 Bate-se o açúcar com as gemas  até o obter  um creme esbranquiçado, nessa altura juntam-se  as castanhas, a canela e o mel e mistura-se bem.

Batem-se as claras em castelo, juntam-se ao preparado, envolvem-se levemente  e por último junta-se a farinha  peneirada com o fermento e também envolvida levemente.
Deita-se  na forma e vai ao forno moderado a cozer durante cerca de 30 minutos.
Verifica-se se está cozido, retira-se do forno, deixa-se arrefecer e desenforma-se.

Obs:
Esta receita encontra-se  na ficha  nº 75 de  Cozinha Familiar, ano de 2010/2011
                                                

BRINDEIRINHAS DE S. MARTINHO

Ingredientes:

            Farinha de trigo          800g
            Farinha de milho        200g               
            Fermento  pad.           50g                 
            Bicarbonato                1 colher de chá
            Açúcar louro               400g               
            Azeite                         ½ dl               
            Erva doce                   40g     
            Canela                        1 c/de chá
            Água                            ½ lt
            Sal                              1 pitada
            Torresmos                   250g
            Margarina                    25g

   kcalorias por 100g ≈ 326

Confecção:
Junta-se  num alguidar, juntam-se todos os ingredientes, excepto os torresmos.
Desfaz-se  o fermento com água morna, mistura-se  muito bem e amassa-se,  deitando água aos poucos até a massa estar na consistência certa, a qual se percebe, quando  começa  a despegar das mãos e a ficar elástica.
Nessa altura juntam-se os torresmos, se forem grados, partem-se aos bocadinhos, (facultativamente pode adicionar-se também  passas, nozes ou pinhões), envolvem-se bem na massa e forma-se  uma bola com ela, polvilha-se  com farinha, cobre-se  o alguidar  com um pano de algodão, abafa-se com um cobertor e deixa-se levedar em ambiente tépido  e estável, durante 2 a 3 horas, até  ela  crescer para cerca do dobro.
 Tendem-se pequenos pãezinhos «brindeiras», colocam-se em tabuleiro untado com margarina e forrado com papel vegetal, também ligeiramente untado e polvilhado com farinha.
Leva-se  ao forno, previamente aquecido a cerca de 200º e deixa-se cozer durante cerco de 30 minutos.
Quando  as brindeiras se apresentarem cozidas retiram-se do forno, podem  comer-se quentes ou arrumar-se inclinadas e abafam-se com um pano até arrefecerem.
      Obs:
     Esta receita encontra-se  na 5ª aula de 2011/2012
                                                




[1] Vikipédia, população mundial, dados de 2011
[2] In Carson Ritchie, Comida e civilização.