quinta-feira, 12 de março de 2015

OS BENEFÍCIOS E OS MALEFÍCIOS DO DESENVOLVIMENTO

AUTITV
DISCIPLINA DE GASTRONOMIA
16ª AULA, 09 de Março  de 2015

CONSOLIDAÇÃO DA 4ª AULA

OS BENEFÍCIOS E OS MALEFÍCIOS DO DESENVOLVIMENTO


O processo de desenvolvimento do homem, vem desde o primitivismo, tempo  em que  ele foi  caçador e  recoletor. Já nesse tempo   criou armas  avançadas e  técnicas  para aumentar as fontes de alimento, o que lhe permitiu  caçar grandes quantidades de animais pelo sistema de encurralamento  os quais obrigava a despenharem-se e morrer, sem que grande parte deles fossem aproveitados.




Estes novos procedimentos, na procura de alimentos vieram reduzir cada vez mais  a abundância  dos mesmos  e aumentar  a escassez,  até aí não sentida.







Com o   desenvolvimento tecnológico (revolução agrária e revolução industrial),




Foram criadas novas condições tecnológicas que permitiram aos produtores produzir mais e com isso   começar a ganhar muito dinheiro e a fazer dinheiro com o próprio dinheiro, isto é, se maior é o ganho maior é a ânsia de o aumentar, é a isto que se chama o capitalismo, quando a produção não é programada em função das necessidades de consumo, mas em função do lucro.


 No entanto a revolução agrária em si não foi má. Foi com ela que se deu o primeiro aumento importante da população. O que levou à afirmação do famoso economista inglês, Thomas Malthus (1766-1834) de  que o desenvolvimento científico da agricultura não só não resolveu o problema da  humanidade como o aumentou, porque fez com que a população crescesse mais do que a capacidade de a alimentar. Aqui o mundo ainda  estava com carência de alimentos e Malthus não se tinha enganado nas contas, apenas o sistema de produção não tinha chegado ao auge inesperado.
Com a evolução da ciência, melhorou-se a alimentação, melhoraram-se as condições de habitabilidade, melhoraram-se os transportes,  passou a curar-se doenças até aí incuráveis e aumentou a esperança de vida quase para o dobro. Razão suficiente para Malthus afirmar que o crescimento esponencial da população passaria a não caber no mundo.
Tudo isto foi bom para a humanidade e continua a ser, apenas subvertido pelos excessos , a chamada insustentabilidade do desenvolvimento que reverte o sistema contra si próprio. E porquê? Pergunta-se. Porque o crescimento económico é descontrolado.
Exibe-se de seguida um pequeno quadro, para nos trazer  o passado para a realidade dos nossos dias e mostrar que os filmes do cowboys, não foram apenas uma distracção cinematográfica do passado, mas antes que eles se repercutem para os nossos dias.  




Se a  vedação de grandes extensões

para criação de gado de carne, melhorou substancialmente a alimentação e  essa tenha custado o   preço da dizimação de povos inteiros que viviam pacificamente e em harmonia com a natureza. Não é apenas  um problema do passado. Ele é um problema do presente, apenas noutros moldes.







Quando a produção esgotou a capacidade de consumo, começou a criar necessidades artificiais, e com isso a explorar ilusoriamente necessidades supérfluas  que aparentemente  e ocasionalmente preenchem o ego, mas não passam de satisfações vazias, que não só não satisfazem , como criam outras aparentes necessidades, é o que se chama consumismo.

  

Mas o problema não acaba aqui, apenas começa.
Quando a produção, ou seja a oferta é maior que a capacidade de consumo e os produtores que produzem em função do ganho, querem vender  e vender cada vez mais, começam, a criar sistemas de reduzir os preços de venda dos produtos.












 
Gráfico de consumismo no mundo
De novo o drama da produção, quem produz tem que vender e vender mais para ganhar mais.  Mas, aqui pelo meio  e bem activa,  anda a concorrência que se por um lado é controladora, como teoricamente parece, na prática não funciona  bem assim.  Então a luta para aumentar o lucro passa a não  estar apenas nos preços de venda, mas principalmente nos preços de custo da produção, ao que se chama produtividade.

É aqui que começa (para os produtores sem escrúpulos)  a falsificação dos produtos, não  podendo deixar de referir-se  aqueles  raros que conseguem  escrupulosamente vencer. 

Esta é a grande factura que  o consumidor (todos nós) tem que pagar, os preços baixam, compramos mais, mas os produtos são caros porque não reúnem em si o preço que custam.

 E isto,  para falarmos apenas de consumidores, já  não de pequenos produtores que  têm que abandonar a produção, como se vê acontecer em cada dia.



E o que é que nós podemos fazer?  Nada ou muito pouco! Apenas evitar e alertar.


Pior é que , não  é  por deixarmos  de comprar alguns produtos (alimentares por exemplo)  porque  duvidamos da sua boa qualidade, que  podemos evitar comprar outros e o sistema continua.


Este é um problema complexo, debatido em alta
escala na palestra da passada quinta feira,
Onde, como referiu  o palestrante, tem a ver com  a  economia à escala mundial, dominada pelo capital financeiro e que só será resolvida quando o sistema de política global vier a corrigir estes erros, coisa que vai demorar muito tempo.






Não queremos cair no extremo de pensar que o desenvolvimento seja um mal em si mesmo.  Não, o desenvolvimento  trouxe inegáveis benefícios, como já vimos  e mais trará enquanto sustentável e não pervertido.
 Veja-se a revolução dos transportes.
Não precisamos de recuar muito na história  da humanidade para encontrar a fome  reinante  não apenas por falta de produção necessária, mas principalmente   por dificuldade de transportes dos alimentos de uns lados para outros.
 Depois da revolução industrial e da máquina a vapor os alimentos passaram a transitar do campo para a cidade e de umas cidades para as outras em tempo de se poderem consumir no próprio dia.
Em Inglaterra( refere Ritchie, in Comida e Civilização)  passou a ser conhecido o primeiro comboio do dia pelo comboio do leite, leite que antes era produzido em  infectos estábulos nos edifícios habitacionais das cidades, o mesmo se pode dizer para Portugal, quando as vacas passeavam nas ruas deLisboa. Os restantes frescos, embora muitos deles fornecidos pelas  hortas periféricas das cidades, com o tempo vieram a seguir os mesmos caminhos.
 Os navios a vapor passaram a transportar alimentos de umas  para outras longínquas   partes do mundo, mais tarde em avião os frescos chegam quase no mesmo dia de um a outro país. Tudo isto trouxe benefícios que um “ilustre senhor chamado lucro” oferece com uma mão e retira com a outra.


   
Hoje,  como se sabe,  chega a consumir-se  produtos da outra parte do mundo mais baratos que os de produção local.










Mas, para quê falar aqui de problemas  que todos estamos fartos de saber e ainda por cima não os  podemos resolver.
Para que cada um de nós, esteja  mais consciente do problema e alerta para a publicidade enganosa.

Agora remetemo-nos ao nosso pequeno (ou grande) mundo gastronómico, porque a  
 gastronomia tem a ver com tudo isto. 

A gastronomia está ligada à tradição  que vamos encontrar
Folar de carne
nos costumes das nossas aldeias  e que vêm sendo passados de geração em geração.

 O regional esse está arreigado à terra e ao que ela produz. Por isso o tradicional se confunde muitas vezes com o regional, porque ambos têm um factor comum que é a sazonalidade.

 Cada coisa lembra em seu tempo, diz o povo. Favas ou ervilhas não as comes em  Dezembro! essas vêm quando o Abril cai e o folar  já lá vai.




Para recordar alguns  ditames gastronómicos pode consultar-se  Gastronomia Higiene Alimentar e Culinária, 2011/2012,  pasta  nº5  Festas e Ocasiões Especiais de onde retiramos três receitas que se seguem lembradas na quadra pascal.

Trata-se de três bolos de massa lêveda que sâo:
                                                                           -Folar da Páscoa 
                                                                           - Trança da Páscoa
                                                                           -Bolo de Páscoa




FOLAR  DA  PÁSCOA






Ingredientes:                                                
500g de farinha de trigo, 25g de fermento de padeiro, 100g de açúcar, 2 ovos, 100g de margarina, 2,5 dl de leite meio gordo, uma pitada de sal, 1 colher de sopa de erva doce, 1 colher de café de canela, Ovos cozidos facultativo.
            
Nutrientes por 100g
V. E.
Prot.
Gord.
H.C.
F.A.
kcal
g
g
g
g
324
7
11
48
2
 Receita de Cozinha Tradicional Portuguesa, Maria de Lurdes Modesto,22ª ed, 2009.


                          

               
Confecção:                                        
Coloca-se  a farinha num alguidar, junta-se  o sal e o fermento dissolvido num pouco de leite morno, a margarina amolecida, o açúcar, a erva doce e a canela.
 Começa  a amassar-se  juntando gradualmente o leite morno. Quando a farinha estiver bem envolvida e já em massa juntam-se  os ovos um de cada vez e continua a amassar -se e a juntar-se pequenas gotas de leite de cada vez. Se for necessário pode juntar também algumas gotas de água.
Quando a massa se apresentar pronta, isto é, quando ela estiver bem ligada, elástica e despegar-se das mãos, molda-se em bola dentro do alguidar, polvilha-se com um pouco de farinha, cobre-se o alguidar com um pano sobreposto por um cobertor  e deixa-se a massa levedar durante  2 a 3 horas em lugar morno, com temperatura constante.
Quando a massa apresentar cerca do dobro do volume, pode moldar-se  o folar, um se for grande, ou mais do que um, se  preferirmos mais pequenos.
 Para moldar  polvilhe uma superfície lisa, com farinha e molda-se o folar como se fosse pão. Deixa-se de fora um pouquinho de massa, para que, se quisermos  colocar ovos cozidos, prende-los com tiras de massa.
Para isso enrola-se a massa  com as palmas das mãos sobre a superfície de tender e fazem-se tiras fininhas que se colocam sobre os ovos para os prender.
Tem-se  então, um ou mais ovos cozidos, conforme  o tamanho do folar. Os ovos  podem ser decorados  com corantes alimentares, ou simplesmente cozidos com casca de cebola. Colocam-se  ao centro do folar,  fazendo pressão para que fiquem um pouco metidos na massa e prendem-se com as tirinhas de massa enroladas.
Deita-se o folar num tabuleiro polvilhado de farinha e leva-se ao forno previamente aquecido.
 Deixa-se cozer durante cerca de 1 hora, se for em forno de gás ou eléctrico, deverá baixar-se a temperatura a cerca de um quarto do tempo da cozedura.


                    




              
                                      


                                                                                                                                                                                                                          
                TRANÇA  DA  PÁSCOA 

                                    
Ingredientes:

500g de farinha de trigo, 2,5dl de leite, 20g de fermento de padeiro, 10 g de açúcar, 60g de margarina ou banha, 1 ovo, 50g de sultanas, raspa de limão (facultativo).          
           
Nutrientes por 100g
V. E.
Prot.
Gord.
H.C.
F.A.
kcal
g
g
g
g
310
7
5
66
3







Confecção:
Desfaz-se  o fermento com um pouco de água morna e deixa-se levedar até cerca do dobro do volume. Num alguidar põe-se a farinha, o fermento, a margarina  (ou banha), o açúcar e o ovo.


Amassa-se tudo muito bem deitando gotas de leite morno, até a massa estar macia e homogénea.
Tapa-se o alguidar com um pano, abafa-se com um cobertor e deixa-se  a massa levedar a temperatura moderada e estável, durante cerca de 1 hora.

Depois de lêveda, retira-se  a massa do alguidar, coloca-se  sobre uma bancada polvilhada de farinha e separe-a em três partes iguais.

Fazem-se  três rolos de massa, entrançam-se  e levam-se ao forno previamente aquecido, para cozer a temperatura média durante cerca de 1 hora.

Para verificar se a massa  está cozida toca-se com as pontas dos dedos, se apresentar toque a pão cozido, a trança está  pronta a sair do forno.

A trança da Páscoa que também se pode fazer em rolo ou em coroa e guarnecer com  elementos decorativos, não é mais que uma massa de pão enriquecida com alguns ingredientes.










BOLO    DE  PÁSCOA


Ingredientes:
450g de farinha de trigo, ½ l de leite meio  gordo,
11g de fermento granulado (corresponde a 1 carteirinha), 450g de açúcar, 3 gemas, 1 ovo inteiro, 100g de margarina, 1 pitada de sal, 25g de margarina para untar a forma 1 pitada de canela.
                     
Nutrientes por 100g
V. E.
Prot.
Gord.
H.C.
F.A.
kcal
g
g
g
g
425
6
13
72
2




Reserva-se 250g de açúcar e 2,5 dl de leite para fazer uma  calda de cobertura.

Confecção:
Dissolve-se o fermento em 2,5dl  do leite que deve estar morno, junta-se-lhe  cerca de 50g de açúcar, e a farinha necessária para fazer uma massa. Amassa-se e deixa-se levedar cerca de 4 horas em local tépido.
 Depois da massa lêveda  juntam-se as gemas, a restante farinha,  o sal,  50g de margarina  derretida, mas sem ferver e 100g de  açúcar. 
Sobre uma superfície lisa, ligeiramente untada e polvilhada com farinha trabalha-se  muito bem  a massa, até ela  ficar macia.
Deixa-se  levedar novamente  em local tépido, durante cerca de 1 hora ou mais, até ela  atingir o dobro do volume.
Unta-se uma forma de 25 cm de diâmetro, com margarina, forra-se  o fundo com um papel vegetal, também  ligeiramente  untado.
Na mesma superfície, untada e polvilhada com farinha,  onde se trabalhou a massa, estende-se agora esta com o rolo e sobre  ela  estende-se a restante margarina  reservada,  polvilha-se com os 50 g de  açúcar,  também reservado e misturado com a  canela.
Enrola-se  a massa no sentido do comprimento, como se fosse para uma torta.
 Corta-se em 10 fatias iguais que se colocam  na forma com o corte virado para cima.
Bate-se o ovo inteiro, pincela-se com ele,  a massa  assim moldada  e leva-se ao forno previamente aquecido.
Deixa-se cozer durante 30 a 35 minutos, até  o bolo  se apresentar corado e firme.
Logo que  ele  esteja  cozido retira-se do forno  e ainda dentro da forma, pica-se com um garfo e rega-se com a calda de leite com açúcar. Depois de frio retira-se da forma.

Calda:
Misturam-se os 250g de açúcar   com os 2,5 dl de leite que se reservaram, leva-se ao lume e deixa-se  ferver até começar a tomar uma ligeira cor de marfim.
Rega-se o bolo com esta calda ainda quente e deixa-se absorver.

Fontes: Ana V.d’Andrade , Luanda; Tele Culinária, 89;  Receitas à Moda Antiga , Selecções do Rider’s 97, adaptada por PCL

Nota  final:

Texto  de apoio composto,  feito exclusivamente   para apoio das aulas de gastronomia da Universidade  da Terceira Idade de Torres Vedras, pela professora da disciplina , Palmira Cipriano Lopes.

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