terça-feira, 4 de novembro de 2014

EQUINÓCEO DE OUTONO - PÃO POR DEUS E S. MARTINHO

                                          AUTITV






                        
DISCIPLINA DE GASTRONOMIA

3ª Aula, 03 de Novembro de 2014


         EQUINÓCEO DE OUTONO
   PÃO POR DEUS E S. MARTINHO

( Texto do ano 2009/2010 actualizado)










Equinócio é uma palavra derivada do latim que significa, noite igual ao dia (alguus- igual  e nox – noite) ocorre na passagem do verão para o outono e do inverno para a primavera. Igualmente  com o solstício que se dá na passagem do Outono para o inverno e do inverno para  a primavera. Estas quatro passagens enquadravam as principais festas pagãs praticadas pelos romanos.
Como sabemos, os romanos dominaram uma grande parte do território no  mundo, disseminando a sua religião (pagã)  por onde passaram, anteriormente à religião cristã.
No«a  passagem do Outono para o inverno, o equinócio , os romanos festejavam as colheitas e louvavam por elas, ao  deus sol.

A igreja católica, sabendo da vinculação do povo  à religião, procura dar aos festejos pagãos  um sentido cristão, fazendo coincidir com eles  as principais festas do calendário católico (Natal, Páscoa, Todos os Santos e Santos Populares). Festividades que não eram celebradas no início do cristianismo.
No início, os santos venerados eram apenas os mártires com as celebrações em seu louvor prestadas nos subterrâneos.
Só no século VIII é que  o papa Gregório III manda erigir na basílica de S. Pedro  em Roma, a capela dedicada ao Divino Salvador e à sua Santíssima Mãe, aos apóstolos e a todos os mártires confessores. Começou por aqui a prestar-se culto a todos os santos.
No século IX o papa Gregório IV fixa a data desta  religiosidade para o dia 1 de Novembro, tornando-se então universal na igreja católica e uma das suas  principais solenidades.
No século  X a Igreja Católica associa  estas celebrações às de devoção  pelos fieis defuntos com orações pelo seu eterno descanso.





O povo que  em todas as religiões se devota à transcendência humana, depressa se pegou  à prática da devoção pelas almas dos fieis defuntos.

Mais tarde, a igreja católica  passou  a devoção dos defuntos para o dia 2 de Novembro, ficando o dia 1 dedicado à veneração de todos os santos.










 Separando esse dia do da devoção pelos defuntos, o povo continuou a manter as antigas devoções pagãs que festejavam a abundância das colheitas.





.A tradição do «Pão por Deus» está assim associada  às práticas pagãs da abundância, práticas que a igreja,  com o tempo, tem vindo a cristianizar, ensinando que, por Deus, os mais abastados repartam com os mais necessitados.







Instalou-se então o costume de repartir as colheitas, engrossando nesse dia as esmolas e por esse acto caritativo alcançar o merecimento de um lugar no céu, procedimento que fazia com que a festa da abundância chegasse  a  todos.

O povo assim o interpretou e, mesmo que de modo diferente,  continuou a praticar a tradição pagã, que ainda hoje prevalece.

O peditório do «Pão por Deus», feito pelas crianças, com o saquinho apropriado, à porta dos vizinhos e amigos, bem como o presente das broas ou iguarias equivalentes, não representam hoje qualquer sinal de pobreza, nem tão pouco de culto, seja  pagão ou cristão, representam, isso sim, um sinal de que o povo se agarra a símbolos do passado que completam as suas vivências  no presente, ainda que muitas vezes, sem dar qualquer importância às suas origens ou aquilo que então tenham representado.   



  


BOLINHOS DOS SANTOS




Ingredientes:
500g de farinha, 250g de açúcar,200gde margarina,1/2 bdl de azeite, 2 ovos,1colher de chá de fermento em pó, 1 colher de chá de canela, 25g de erva doce, 100g de nozes.

Kcalorias por 100g  ≈ 472

Confecção:
Juntam-se num alguidar  a farinha misturada com o fermento, o açúcar, os ovos inteiros e a margarina amolecida, mas não derretida.
Amassam-se todos os ingredientes, apenas o suficiente para ficarem ligados.
Unta-se um tabuleiro e forra-se com papel vegetal também ligeiramente untado.          
Separam-se pequenas porções de massa e coloca-se no centro meia noz  e com as palmas das mãos moldam-se pequenas bolinhas que  se colocam-se no  tabuleiro e levam-se ao forno previamente aquecido a 180 ou 200º.
Cozem durante 10 a 15 minutos, quando estiverem coradinhos retiram-se do forno, colocam-se sobre uma rede até arrefecerem.
Depois de frios, guardam-se em recipiente fechado, em lugar fresco e seco.
Conservam-se em boas condições durante muito tempo.


Nota:
Estes bolinhos poderiam apresentar-se sem nome, para que lhe fosse atribuído o mais conveniente. Isto porque com a massa de base, neste caso adequada à quadra de todos os santos, é aromatizada com erva doce e os bolinhos recheados com nozes, ela pode ser aromatizada com qualquer outro aroma a gosto e recheado com qualquer outro recheio, ou até sem nenhum.
Aromas possíveis em alternativa: limão, canela, gengibre, erva doce, hortelã, baunilha, etc.
Igualmente com recheios que em alternativa podem ser: amêndoa ou qualquer outro fruto seco  ou cristalizado.

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BOLO SALOIO

                                     ( Esta receita encontra-se  na 3ª aula de2012/2013)




Ingredientes:             
250g de  farinha, 200g de açúcar,180g de mel, 1dl de água (aprox) 100g de banha, 1/2 dl de             azeite,2 ovos, 1 colher de chá de canela, 1 colher de chá de fermento em pó, 25g de erva               doce,casca de meio limão, sal fino 1 pitada,gordura para untar a forma. 

Kcalorias por 100g ≈ 576

Confecção:
Unta-se  uma forma com  margarina e forra-se  com papel vegetal,  ligeiramente untado.
Ferve-se  a casca do limão com a água e deixe-a arrefecer.
 Junta-se  a banha amolecida, o açúcar, o mel, os ovos inteiros,  a canela, a erva doce, o sal  e a farinha peneirada com o fermento alternada com  a água fervida com a casca de limão.
Bate-se  tudo muito bem até  a massa formar ampolas.
Deita-se  na forma e leva-se  a cozer em forno previamente aquecido e moderado, durante cerca de 30 a 40 minutos.
Retira-se  do forno e desenforma-se  depois de frio.

Obs:
Pode rechear-se  este  bolo com frutos secos, principalmente nozes, que o valorizam muito  e não lhe retiram em nada as características.                                 

Receita tradicional da região saloia,  encontra-se também  publicada por Selecções de Reader’s  Digest, Tesouros da Cozinha Tradicional Portuguesa,1984,  referida  à Província da Estremadura.



S. MARTINHO  -  HISTÓRIA E LENDA

 Martinho  nasceu  entre 315 e 317 em território do império
romano, na  da antiga  Sabaria, hoje a Hungria,  filho de um soldado do exército romano logo, como mandava a tradição, filho de militar segue a vida militar, como filho de mercador é mercador e filho de pescador devia ser pescador. Martinho estudou em Pavia, para onde a família foi viver, entrou para o exército com 15 anos, tendo chegado a cavaleiro da guarda imperial. Professava  a religião pagã dos romanos, seus antepassados. Dado a imensidão do Império, a religião variava um pouco de região  para região. As Gálias teriam os seus deuses próprios, como os tinham a Germânia, ou a Hispânia.
O jovem Martinho tornou-se atento a uma nova  religião, pregada três séculos antes, por um homem bom de Nazaré e seguida por alguns adeptos .
 Um dia aconteceu um facto que o marcou por toda a vida. Numa noite fria e chuvosa de Inverno, às portas de Amiens ( França), Martinho ia a cavalo, provavelmente no ano de 338, quando viu um pobre com ar miserável e quase nu, que lhe pediu esmola e Martinho, que não levava consigo qualquer moeda, num gesto de solidariedade, cortou ao meio a sua capa (clâmide) que entregou ao mendigo para se agasalhar. Os seus companheiros de armas riram-se dele porque ficara com a capa rasgada e segundo consta teria sido castigado porque a capa não era sua, mas do exército.
 Segundo a lenda, a seguir ao gesto caritativo de Martinho , de imediato a chuva parou e os raios de sol irromperam por entre as nuvens.


A partir deste fenómeno, Martinho de militar passou a santo. Transformou-se  num  dos grandes apóstolos da mensagem cristã. Consta que Constâncio I, o grande, imperador e  fundador da cidade de Constantinopla, que  veio a ser a capital do Império, terá acreditado que o deus dos cristãos  propagado por Martinho, o protegia mais que os seus deuses pagãos. Por isso converteu-se à religião cristã e mandou  erguer templos cristãos por todo o Império, entre  muitos  outros contam-se a basílica  de Latrão, a Igreja de S. Pedro em Roma e a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém.
Martinho foi bispo da cidade de  Tours, deixou uma  vultuosa obra  à igreja católica, foi o primeiro santo do ocidente a ter a sua biografia escrita,  por um seu contemporâneo , o escritor Suplício Severo.
 As tradições do vinho  de S. Martinho, da água-pé, das castanhas e de outros frutos ligados à época, são ainda reminiscências dos cultos pagãos, de louvor ao sol e à  abundância.


 GASTRONOMIA DE S. MARTINHO 

O dia em que se festeja o S. Martinho ocorre na época das castanhas e do vinho novo, mais ainda da água pé que já começa a poder verter da tornicha do barril pronta para provar e beber.   



Em todo o país a época de S. Martinho é lembrada pelas castanhas e pelo vinho.

   


 A partir das “quentes e boas” vendidas na rua às mais variadas receitas culinárias confeccionadas com castanhas.

 Mesmo nas regiões não produtoras como é o caso desta onde nos encontramos,  embora se encontrem alguns castanheiros  não muito longe, concretamente na serra de Montejunto e mais alguns dispersos, pouco mais que ornamentais, em cercados protegidos. Verdade é que chegando o tempo elas cá aparecem.
 Quanto ao vinho, já o mesmo  não se passa,  pois que vivemos numa região privilegiada em produção de vinho. Essa terá sido a razão para Torres Vedras adoptar S. Martinho como seu padroeiro.
A actividade da vinha e do vinho neste concelho  remonta ao tempo dos romanos, tendo a tradição do seu cultivo prosseguido até aos nossos dias e contribuído muito para o desenvolvimento do concelho, talvez se possa mesmo dizer que tem sido  a alma da sua economia 
Sabe-se da  grande  importância do vinho nesta região, durante a Idade Média. Importância, advinda da  influência das ordens  religiosas nomeadamente a de Cister à qual pertencia a Abadia de Alcobaça, com grande extensão territorial alargada até ao concelho de Torres Vedras.
Passando em  saltos de gigante da época romana para a Idade Média e desta  para o Século XIX, podemos verificar com dados mais próximos, quão importante foi para esta região o cultivo da vinha e do vinho.
Nos  finais deste Séc. XIX e princípio do Séc XX  foram criadas as primeiras Adegas Sociais do país e entre elas a de Torres Vedras, à criação da qual  esteve ligado o ilustre  torriense, proeminente figura portuguesa, Jaime Batalha Reis que também fundou  Escola de Viticultura de Torres Vedras. É também sinal da importância da vinha e do vinho neste concelho, o  facto de nele ter sido instalado o Instituto Vitivinícola Nacional. 




BRINDEIRINHAS DE S.MARTINHO
(Esta receita encontra-se na 5ª aula de 2011/2012)




Ingredientes:
  800g  farinha de trigo, 200g de farinha de milho, 50g de fermento de padeiro, 1 colher de chá de bicarbonato de soda, 1 colher de chá de canela, 400g de açúcar louro, 40g de erva doce,  aprox. 1/2 litro de água, 1 pitada de sal, 250g de torresmos,          
         
 Kcalorias por 100g ≈ 303
       
Confecção:
Junta-se  num alguidar, juntam-se todos os ingredientes, excepto os torresmos.
Desfaz-se  o fermento com água morna, mistura-se  muito bem e amassa-se,  deitando água aos poucos até a massa estar na consistência certa, a qual se percebe, quando  começa  a despegar das mãos e a ficar elástica.
Nessa altura juntam-se os torresmos, se forem grados, partem-se aos bocadinhos, (facultativamente pode adicionar-se também  passas, nozes ou pinhões), envolvem-se bem na massa e forma-se  uma bola com ela, polvilha-se  com farinha, cobre-se  o alguidar  com um pano de algodão, abafa-se com um cobertor e deixa-se levedar em ambiente tépido  e estável, durante 2 a 3 horas, até  ela  crescer para cerca do dobro.
Tendem-se pequenos pãezinhos «brindeiras», colocam-se em tabuleiro untado  e forrado com papel vegetal, também ligeiramente untado.
Leva-se  ao forno, previamente aquecido a cerca de 200º e deixa-se cozer durante cerco de 30 minutos.
Quando  as brindeiras se apresentarem cozidas retiram-se do forno, arrumam-se inclinadas e abafam-se com um pano até arrefecerem.

Obs:
 - Também  se podem  comer quentes, aliás de preferência.
-  Em alternativa aos torresmos, podem rechear com frutos secos (passas, nozes ou pinhões), embora os frutos  não sejam de origem, ficam bem e não descaracterizam.


Como tudo lembra no seu tempo, vamos às castanhas




SOPA DE CASTANHAS


Ingredientes:
( para 2 litros de sopa, 4 doses)

800g de castanhas (miolo), 500g de batatas, 200g de cebola, 200g de alho francês,1/2 dl de azeite, 1colher de chá de erva doce, sal q.b.        

 kcalorias por dose ≈ 590


Confecção:
Descasca-se e corta-se a cebola e o alho francês em pedaços.

 Dá-se-lhe uma ligeira fervura no azeite, acrescenta-se água e deixa-se ferver um pouco.

Seguidamente juntam-se-lhe as castanhas ( podem ser congeladas), descascadas, deixando algumas para juntar esmagadas,  acrescenta-se água e deixa-se cozer.

Tritura-se com a varinha mágica, acrescenta-se água até à medida de sopa, tempera-se com o  sal e com a  erva doce.
Jntam-se as castanhas que se reservaram esmagadas, deixa-se levantar fervura e  retira-se do lume. 


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LOMBO DE PORCO COM CASTANHAS



Ingredientes:

1kg de lombo de porco, 800g de castanhas (miolo), 500g de batatas miúdas, 1dl de azeite, 2dl de vinho branco, 50g de massa de pimento, 2 dentes de alho grandes, 100g de cebola, 50 g de erva doce em grão.        

kcalorias por 100g ≈ 146


Confecção:

Faz-se uma marinada  com o vinho, o azeite, a massa de pimento e o sal(cuidado porque a massa de pimento já é salgada), envolve-se o lombo nesta marinada e deixa-se repousar por um mínimo de 4 horas.

 Seguidamente coloca-se num tabuleiro, rega-se com a marinada e leva-se ao for moderado.
 Vai-se vigiando e regando com o próprio molho e com água que se ferveu juntamente com  a erva doce.
 Quando estiver a meia cozedura, vira-se a carne no tabuleiro e  juntam-se as batatas  pequenas descascadas e inteiras.

 Quando a carne e as batatas estiverem quase cozidas juntam-se as castanhas cozidas (podem ser congeladas).

Deixa-se apurar e retira-se do forno.

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BOLO DE CASTANHAS

(Esta receita encontra-se  na ficha  nº 75 de  Cozinha Familiar, ano de 2010/2011)

                  
Ingredientes:
300g de miolo decastanhas, 250g de açúcar,
60 g de mel, 50g de farinha, 6ovos, 1 colher de sobremesa de canela, 1 colher de café de fermento em pó, gordura para untar a forma.
  
kcalorias por 100g ≈ 312

Confecção:                                       
Unta-se  uma forma  e forra-se com papel vegetal, também ele ligeiramente untado.
Lavam-se as castanhas, golpeiam-se e cozem-se (cerca de 400g de peso crua com casca), descascam-se passam-se pelo passe vitte e aguardam.

 Bate-se o açúcar com as gemas  até o obter  um creme esbranquiçado, nessa altura juntam-se  as castanhas, a canela e o mel e mistura-se bem.

Batem-se as claras em castelo, juntam-se ao preparado, envolvem-se levemente  e por último junta-se a farinha  peneirada com o fermento e também envolvida levemente.
Deita-se  na forma e vai ao forno moderado a cozer durante cerca de 30 minutos.
Verifica-se se está cozido, retira-se do forno, deixa-se arrefecer e desenforma-se.






   Nota  final:
Texto  de apoio composto  de 11  páginas,  feito exclusivamente   para apoio das aulas de gastronomia da Universidade  da Terceira Idade de Torres Vedras, pela professora da disciplina , Palmira Cipriano Lopes.





Fontes documentais: Enciclopédia Universal Lelo e Irmão; Religião e Cultura na Idade Média Portuguesa, José Matoso, Círculo de Leitores ; História Universal; História das Grandes Civilizações; As Religiões do Mundo, Círculo de Leitores, autores diversos; História Concisa da Igreja, Philipp Tourault, Europa-América;O Vinho e as Religiões, Raymond Brunet,  trad de Daniel Gouveia,Hugin Cozinha Saloia hábitos e práticas alimentares no termo de Lisboa, Manuel Paquete;  Festas  e Ocasiões Especiais , aulas de gastronomia  2012, Palmira Lopes, inédito.  

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