AUTITV
DISCIPLINA DE
GASTRONOMIA
5ª AULA, 17 de Novembro de 2014
Com o cultivo da terra
e a domesticação dos animais, ou seja, a primitiva revolução agrícola
ressalvando os malefícios , já antes referidos,
foi grande o salto qualitativo na vida humana .
O melhoramento das plantas, antes bravias e a possibilidade de carne fresca com a criação de animais para abate no momento necessário
trouxeram à dieta humana uma qualidade
de vida e possibilidades culinárias
até aí não experimentadas.
Milheto |
Ainda assim, a
principal dieta continuou a ser cerealífera com predominância do milheto , ou
milho painço que é o mesmo cereal com nomes diferentes.
O milheto é um cereal
existente desde os tempos pré-históricos , originário da Itiópia e muito usado até ao aparecimento do milho maiz, chegado à Europa já no
século XIV, porém este não destronou facilmente
o seu antecessor , pelo contrário, os consumidores de milheto continuaram a preferi-lo durante
muito tempo.
Hoje o milheto é aproveitado quase só para alimento de animais, sem que por isso
deixem de ser reconhecidos os seus
valores nutricionais para a alimentação
humana. Basta que seja um
cereal sem glúten, podendo ser um
sucedâneo do trigo para os celíacos (intolerantes ao glúten).
Existem várias
receitas culinárias de milheto, vindas dos tempos passado ou, talvez, criadas de novo.
O milheto ocupa o 6º
lugar de produção de cereais no mundo (
dados de 2010), ver receita de bolo de
milheto na página 6.
A bolota é o
fruto da azinheira, do sobreiro e do carvalho que são três espécies diferentes da família dos Quercus, naturais da Península Ibérica, com grande
predominância na região sul de Portugal.
Durante muito tempo a bolota e a castanha substituíram, em grande parte, os cereais na alimentação humana.
As informações
disponíveis sobre o aproveitamento da bolota reportam ao tempo dos ancestrais
lusitanos, nossos directos e próximos
antepassados.
Hoje encontramos bibliografia moderna sobre a
recriação culinária da bolota, ainda que
não seja fácil encontrar à venda no
mercado, quer o fruto em natureza, quer
transformado nem farinha, mesmo
assim reunimos alguns elementos culinários sobre este antigo fruto que está a
merecer atenção na gastronomia
mediterrânica (ver receitas de bolota nas páginas 9 e 10).
A CASTANHA
A castanha, castanha
sativa, fruto do castanheiro é
conhecida há mais de 100 mil anos. Oriunda
da Ásia Menor , desenvolveu-se no
sul da Europa, em França, Grécia e a norte de Portugal, mas também a norte da Inglaterra e Alemanha.
O seu aproveitamento remonta à pré-história, sendo utilizada pelos romanos tanto em alimento para os exércitos, como em
banquetes.
A sua colheita de inverno, alterna com a dos cereais de verão, por isso
os romanos teriam chamado ao castanheiro
“ árvore do pão”.
Durante a Idade Média a castanha foi muito usada, desde as populações rurais
até às cozinhas conventuais. Hoje, falando de Portugal, encontra-se
reduzida quase a uma guloseima tradicional da época de S. Martinho.
Embora o receituário à volta da castanha seja muito variado e actualizado de
acordo com os novos gostos e métodos culinários ( ver receitas de castanhas
na 4ª aula).
CENTEIO E CEVADA
A cultura do centeio
data de 1500 a 1800 a.C., havendo registos da sua cultura nesse tempo no
vale do Eufrates ( Síria). Na Europa
cultiva-se a partir de 400 a.C., antes de ser cultivado era considerado uma
erva daninha que crescia entre o trigo e
a cevada . Apreciadas as suas qualidades alimentícias quer para os humanos, quer para animais e
também pela boa adaptação ao terreno e ao
clima, o centeio é hoje muito
divulgado por todo o mundo.
O pão de centeio, que nunca deixou de ser o preferido das populações das zonas onde ele foi e é o cereal de referência, é hoje recomendado nutricionalmente e encontra-se regularmente no mercado.
Tal como se encontram
bolos e bolachas e também farinha de centeio para as mais variadas receitas de culinária.
A cevada
é conhecida desde o paleolítico (2,5
milhões a 10 mil a.C.). Originária do
Médio Oriente, onde teve grande
importância, durante o período
neolítico, foi o principal alimento dos
humanos (9 mil a 6 mil anos a.C.),
chegando a ser utilizada como moeda.
Até hoje, a
cevada continua a ter grande importância, contando-se em 4º lugar da
produção de cereais no mundo (dados de 2010).
Foi a partir da cevada que, já na época neolítica, surgiu a cerveja, a primeira
bebida feita pelo homem.
A descoberta da
cerveja, teria surgido a partir de alguns grãos esquecidos, os quais
apanhando humidade fermentaram originando o malte, um dos principais ingredientes dessa bebida. A cerveja depressa começou a ser muito apreciada não apenas como bebida, mas também
como alimento.
Outro aproveitamento da cevada, esse já bem moderno, é o da
torrefacção como sucedâneo do café.
Não dispondo de
dados sobre o início desse uso da cevada, recorremos ao do uso do
café, embora a história do café provenha do século IX, a torrefacção para dar a
bebida que hoje conhecemos, só se inicia
no século XV, dando-se a sua divulgação já na segunda metade do século
XVII.
O café era então um produto caro e de luxo, em sua
substituição alguém começou a torrar a cevada de que resultou, com muito
êxito, uma bebida a que habitualmente
chamamos café de cevada.
O aproveitamento culinário da cevada é muito semelhante ao
do centeio; pão, bolos e papas que se
fazem com centeio, fazem-se igualmente com cevada.
Vamos recriar algumas receitas da dieta primitiva, que foram
preteridas em benefício de uma
culinária mais moderna, mas que actualmente, mercê de maior atenção dispensada à história da
alimentação, de novos conhecimentos nutricionais e de um
maior apreço pela gastronomia e pela cozinha. Essas receitas
esquecidas, estão a
reaparecer melhoradas ao gosto
dos palatos de hoje,
apresentando-se mesmo como distintas iguarias.
Temos como referência
, o caso da castanha e da bolota, como o do milheto, do centeio e da cevada dos quais falamos
nesta aula e
vamos deixar, a título de
curiosidade, algumas receitas da sua utilização culinária.
CULINÁRIA
Nota prévia:
As receitas
de milheto, centeio, cevada e bolota,
que se seguem foram recolhidas da
internet e adaptadas, mas ainda não
foram experimentadas
BOLO DE MILHETO
Ingredientes:
250g de farinha de milheto, 250g de farinha de
trigo, 250g de açúcar de preferência louro, 150g de amendoim torrado e moído,
5dl de leite, 2 dl de óleo, 4 ovos, 1 colher de sopa de fermento em pó.
Confecção:
Numa tigela batem-se os ovos e misturam-se com o
leite. À parte misturam-se todos os ingredientes secos, juntam-se aos ovos
batidos com o leite e mexe-se bem até a massa estar homogénea e apresentar
ampolas, se for necessária acrescenta-se mais um pouco de leite. Depois de bem
batido deita-se numa forma untada e forrada com papel vegetal também untado.
Leva-se ao forno pré aquecido a temperatura de cerca de 180ºC e deixa-se cozer
durante cerca de 30 a 40 minutos, vigiando para que não queime. A partir do
meio da cozedura convém baixar um pouco a temperatura do forno. Depois de
cozido retira-se do forno e quando arrefecer desenforma-se.
BOLO DE E DE CENTEIO
Grão de centeio |
250g de farinha de centeio, 150g de farinha de trigo, 250g de açúcar de preferência louro, 2 dl de óleo, 4 ovos, 1 colher de sobremesa de fermento em pó, 1 colher de chá de bicarbonato, 1 colher de sobremesa de canela, outra de erva doce.
Confecção:
Misturam-se
todos os ingredientes amassam-se
bem até se obter uma massa homogénea, deita-se numa forma untada com
gordura e forrada com papel vegetal, também untado e leva-se ao forno a temperatura de cerca de
180ºC durante cerca 30 a 40 minutos.
Quando
estiver cozido desenforma-se e retira-se da forma.
Pode cobrir-se o bolo com uma cobertura a gosto, a
sugestão vai para a cobertura de mel com iogurte, mas também pode ser de
chocolate.
Ingredientes
para cobertura de mel:
100g de mel, 80g de iogurte, 50g de açúcar em pó.
Confecção:
Batem-se os
três ingredientes juntamente até se obter um creme um pouco espesso.
Barra-se o bolo enquanto quente com esse
creme e deixa-se arrefecer.
Nota:
Pode variar-se o bolo juntando à massa um pouco de abóbora ou batata doce,
acrescentando mais um pouquinho de fermento.
BOLO DE ALFARROBA
(Ver
texto sobre alfarrobeira, aulas de 2008/2009)
200g de farinha de alfarroba, 200g de farinha de
trigo integral, 250g de açúcar de preferência louro, 1,5 dl de óleo, 2 dl de
leite, 4 ovos, 1 colher de chá de fermento em pó, 1 colher de chá de
bicarbonato
Confecção:
Misturam-se
todos os ingredientes, amassam-se
bem deitando o leite aos poucos, até se obter uma massa homogénea,
deita-se numa forma untada com gordura e forrada com papel vegetal, também
untado e leva-se ao forno a temperatura
de cerca de 180º C durante cerca 30 a 40
minutos.
Quando estiver cozido desenforma-se , deixa-se arrefecer
e retira-se da forma.
Pode cobrir-se com uma cobertura de chocolate que o
enriquece muito.
Para a
cobertura são necessários os seguintes ingredientes:
Uma tablete de chocolate de culinária, cerca de 1dl de leite e 20 a 30 g de manteiga ou margarina.
Uma tablete de chocolate de culinária, cerca de 1dl de leite e 20 a 30 g de manteiga ou margarina.
Confecção da cobertura:
Leva-se a tablete de chocolate a lume brando
juntamente com a manteiga ou margarina e vai-se juntando o leite aos
pouquinhos e mexendo, até ficar um creme aveludado e consistente para agarrar ao bolo.
Depois do bolo arrefecido cobre-se com este creme.
Aspecto do bolo depois de coberto BOLOTA |
PREPARAÇÃO DA BOLOTA
PARA COZINHAR
Põe-se
a bolota de molho durante vários dias,
mudando a água frequentemente. Descasca-se
e põe-se a cozer, mudando a água até ela ficar incolor e as
bolotas cozidas.
PÃO
DE BOLOTA
Ingredientes:
Para o processo mais primitivo, vindo do tempo dos
lusitanos (Sec. VI a. C.) é necessário
farinha de bolota se houver, ou então a bolota depois de preparada como
acima se indica, água, sal, e fermento.
Para melhoramento do pão, os lusitanos já lhe juntavam um pouco de mel e frutos secos.
Para melhoramento do pão, os lusitanos já lhe juntavam um pouco de mel e frutos secos.
Os romanos, a
estes ingredientes juntaram azeite e um pouco de farinha de trigo.
Confecção, à moda romana:
Juntos os ingredientes num alguidar ( farinha de bolota ou
polma da mesma, mel, azeite, farinha de trigo, água e fermento), amassa-se
como para fazer pão, depois de amassados juntam-se os frutos secos (opcional), envolvem-se
na massa e deixa-se levedar. Depois da massa lêveda tende-se o pão e deita-se
no forno.
AZEVIAS DE BOLOTA
(Receita do chefe Pedro Mendes,
autor do Livro, Receitas de Bolota)
Ingredientes:
Para o recheio: 300g de miolo de bolota, ½ dl de
mel, 1 pitada de erva doce.
Para a massa:
½ kg de farinha de trigo, 0,75 dl de azeite, 15g de manteiga, ½ dl de
aguardente.
Preparação do recheio:
Tritura-se o
miolo da bolota juntamente com o mel e a erva doce até este ficar macio e homogéneo.
Preparação
da massa:
Juntam-se os ingredientes (farinha, azeite, manteiga e
aguardente) e amassa-se bem juntando algumas gotas de água morna.
Preparada
a massa, deixa-se descansar cerca de uma meia hora, coberta
para não secar. De seguida estende-se com o rolo, coloca-se o recheio, dobra-se a massa, fecham-se as azevias e fritam-se em óleo
medianamente quente. Quando estiverem douradinhas, retiram-se do óleo e
passam-se por açúcar e canela.
Obs:
Este é o
processo de fazer azevias, qualquer que
seja o recheio, o de bolota é uma recriação a justificar o valor histórico da
gastronomia.
Nota final:
Texto de apoio feito
exclusivamente para as aulas de
gastronomia da Universidade da Terceira
Idade de Torres Vedras, pela professora da disciplina , Palmira Cipriano Lopes.
Sem comentários:
Enviar um comentário