À Mesa Com
À Mesa Com é um blog com o registo de conversasdemesablogspot.com, título que inicialmente se desejava e o que foi proposto pela turma, mas por existirem outros, o título ficou, À Mesa Com, Palmira Cipriano, ficando este a ser o título por que deve ser procurado. Foi este blog criado por proposta, da turma da
disciplina de Gastronomia da Universidade Sénior de Torres Vedras.
Proposta que teve o objetivo de facilitar o estudo dos temas abordados
nas aulas, os quais ficariam ao dispor dos alunos que quisessem
aprofundar mais cada tema e discuti-lo em aulas seguintes. No
entanto, ou porque tenha faltado a capacidade de nos
adaptarmos às novas tecnologias, ou talvez também por falta de
tempo, o blog ficou parado. Porém, a realidade alterou-se e obrigou
a que todos tivéssemos que ficar mais por casa e ocupar o tempo de modo
diferente. Como queremos aproveitar o melhor que possamos ter, fazendo por
isso, vamos reativar o blog com conversas. Conversas sobre
quê e com quem? Conversas no seguimento das aulas que foram publicadas, que
trataram de gastronomia e culinária. Ultimamente, de 2017 a 2020,
com a mesma professora e grande parte dos mesmos alunos, a disciplina foi
sobre Desenvolvimento Local, tema muito abrangente, onde o" bichinho"
da cozinha está sempre a entrar. É pois neste seguimento e
com todos os que queiram participar nas conversa, os que ainda se lembrem
de quem somos e os que queiram sentar-se à mesa e entrar nas mesmas, basta para
isso, aparecerem e também podem convidar amigos. As conversas irão
fluindo à volta da mesa e do desenvolvimento da nossa
terra.
Nota: As conversas não vão ser, em por onlen , como o tema pode dar essa ideia , mas apenas para cada um ir dizendo alguma coisa por escrito, perguntar, sugerir, enfim, entretenimento.
O
primeiro tema deste recomeço de À Mesa Com é, S.
Martinho.
Vem o tema a propósito de estarmos nesta
quadra, e mais por ser S. Martinho o padroeiro deste concelho de Torres Vedras.
Porquê S. Martinho e não outro Icons mais próximo, perguntamo-nos? Porque é que tivemos de ir buscar um à antiga Roma, região das Gálias, hoje Hungria?
Fomos procurar a resposta e
encontramos uma razão plausível.
A eleição partiu da Câmara Municipal e data de 1977, data a
partir da qual o concelho passou a ter o seu feriado. Escolhido S. Martinho como padroeiro, celebrado no dia 11 de Novembro, três
dias depois da sua morte, dia em que a Igreja Católica especialmente lhe presta culto.
Porquê então S.Martinho?
A alegada justificação é a de ser a economia do concelho suportada
principalmente no vinho e, ser S. Martinho o santo popularmente ligado ao
vinho, embora mais pela lenda que pela história.
Vem a propósito referir a lenda de que o Oficial Militar Martinho repartira com o mendigo, a capa que usava e ser esta propriedade do exército, tendo ele, por isso, ou talvez por já revelar comportamentos diferentes da sua religião oficial, sofrido o castigo de passar uma semana quase nu, preso a uma coluna, exposto dia e noite, o que significava sentença de morte. Acontecendo que milagrosamente o tempo aqueceu e, por esse motivo, o vinho, em processo de fermentação, desdobrou melhor do que nunca. Assim ficou S. Martinho ligado ao vinho, bem como ao curto verão outonal e escapou à morte.
Isto é a lenda que, como sabemos,
pode conter alguma coisa de verdade, mas a História de Martinho, Bispo de Tours,
é muito mais que a lenda. S. Martinho, professava a religião pagã do seu tempo
e da sua região, vindo a converter-se à religião cristã. Dentro da mesma foi uma
das mais importantes figuras dos Santos e Doutores do catolicismo. S. Martinho
é hoje venerado por inúmera população
de dioceses e paróquias do mundo
católico. Padroeiro de várias organizações , onde se inclui a de produtores de
vinho e também de vários municípios portugueses, entre eles o de Torres Vedras.
O povo, com as suas reminiscências
pagãs, festeja a quadra associado aos
costumes outonais, das colheitas,
ligados ao vinho e iguarias da época.
IGUARIAS DE S. MARTINHO
A gastronomia local da época de S. Martinho, para além das castanhas assadas cinzentinhas, mas que os assadores não dão a receita, temos as cozidas com erva doce.
Depois temos a batatinha doce assada. Com o inverno a entrar porta dentro, a batata quentinha à lareira de onde sai uma púcara de café de saco. Não é preciso riqueza para viver bem!
BRINDEIRINHAS
DE S. MARTINHO
Estas brindeirinhas, ainda que sejam conhecidas na região, não são muito usadas, serão até mais um uso de família. Porventura receita muito guardada, mas enfim revelada. São semelhantes às Broas de Todos os Santos e muito boas, experimentamo-las.
Para uma dúzia de brindeirinhas precisamos dos
seguintes ingredientes:
800g de farinha de trigo ,
200g de farinha de milho,
50g de fermento de padeiro,
1 colher de chá de bicarbonato,
400g de açúcar louro,
300g de nozes ou de torresmos,
1 dl de azeite,
40g de erva doce ,
1 colher de chá de canela ,
±2,5dl de água,
1 pitada de sal.
Como
se fazem:
Junta-se num alguidar, a farinha,
o bicarbonato, o açúcar, a erva doce e a canela e a pitada desal. Desfaz-se o
fermento de padeiro, com água morna, não quente, apenas morna, mistura-se muito
bem e amassam-se todos os ingredientes, deitando água aos pouquinhos e com
muito cuidado, para que não seja demasiada. Amassa-se até a massa estar na consistência certa o que
se percebe pela elasticidade. Nessa altura juntam-se as nozes, ou se
preferirmos, os torresmos, envolvendo-se bem na massa. Seguidamente, faz-se uma bola
com ela, polvilha-se com farinha, cobre-se
o alguidar com um pano, abafa-se com outro mais grosso e deixa-se a
massa levedar em ambiente moderadamente aquecido e estável, durante
Nessa altura, retira-se do
alguidar, deita-se sobre a bancada, trabalha-se mais um bocado e tendem-se
pequenas brindeirinhas que se colocam-se num
tabuleiro untado com uma gordura (a margarina é a mais comum) e
polvilhado com farinha ou forrado com papel vegetal. Deixam-se por mais uns 20
minutos no tabuleiro, para voltarem a
levedar e levam-se ao forno pré aquecido,
durante cerco de 30 minutos.
Quando se apresentarem cozidas, o que se vê pelo
aspeto, retiram-se do forno, colocam-se
sobre uma rede ou arrumam-se num tabuleiro forrado com um pano branco de
algodão, inclinadas e não sobrepostas
umas às outras para que não fiquem amassadas. Cobrem-se com outro pano e assim ficam até
arrefecerem, se não forem comidas antes. Porque se frias são boas, quentinhas
são ainda melhores.
Se quisermos ter o prazer de as
comer sempre quentinhas, podemos dar-lhe um ligeiro aquecimento no forno e
ficam quase (quase) iguais à saída da cozedura.
As brindeirinhas, são pequenas
delícias de inverno para comer a qualquer hora, acompanhadas de uma bebida
quente ou de um ligeiro vinho adocicado.
BOLO
DE CASTANHAS
Este bolo apareceu há pouco
reclamando o direito de fazer parte dos amigos de S. Martinho. Foi bem recebido
e por cá ficou. Não somos uma região de produção de castanhas, é certo, mas
elas sempre cá vêm parar, sem que tenhamos dificuldade de as encontrar em qualquer supermercado, basta ter dinheiro.
Vamos lá então experimentar um
bolo simples e muito bom. Para ele precisamos
dos seguintes ingredientes:
300g
de miolo de castanhas,
50
g de farinha de trigo,
250g
de açúcar, 6 ovos,
60g
de mel (2c.sopa),
margarina
para untar que baste,
1
colher de café de fermento em pó,
1
c. sobrem. de canela, outra de erva doce,
açúcar
em pó para polvilhar.
Como
se faz:
Lavam-se as castanhas, golpeiam-se e cozem-se (cerca de 500g de peso em cru)
descascam-se , passam-se pelo passe vite
e, é aqui eu se pesam os 300g e se
reservam para a operação seguinte. ( podem ser castanhas congeladas).
Junta-se
o açúcar com as gemas e bate-se
bem até se obter num creme esbranquiçado.
Junta-se a este creme as castanhas, a canela,
a erva doce e o mel e mistura-se bem.
Batem-se as claras em castelo e juntam-se ao
preparado, envolvendo-as levemente.
Por último
junta-se a farinha peneirada com o fermento, também envolvida levemente com
movimentos longos e lentos.
Unta-se com margarina e forra-se com papel vegetal,
também ele ligeiramente untado,
uma forma, lisa ou de preferência de chaminé (chamada forma de buraco, mas que não
tem buraco). Deita-se dentro o
preparado e vai ao forno pré aquecido a
180ºC, durante cerca de 50 minutos. Mais ou menos a meio da cozedura verifica-se
a evolução, pode ser necessário baixar um pouco a temperatura, ou colocar uma
cobertura de papel para não deixar
queimar à superfície. Uma boa solução é sobrepor o tabuleiro do próprio forno
na grelha acima do bolo. Quando estiver cozido,
para verificar experimenta-se com um palito que se espeta na parte que parecer
mais húmida, se o palito sair seco, o bolo está cozido. Nessa altura, retira-se
do forno, deixa-se arrefecer um pouco e desenforma-se.
Depois de frio polvilha-se com açúcar em pó.
Obs:
Para
fazer-mos deste nosso bolo de castanhas
uma grande guloseima, podemos cobri-lo com
uma cobertura de creme de caramelo em vez do açúcar.
O
creme de caramelo também e muito
fácil de fazer.
Pega-se
nus 100g de açúcar e põe-se num tachinho ao lume sem mais nada. Deixa-se o
açúcar começar a derreter e ficar acastanhado e vai-se deitando pequenas gotas
de leite e mexendo até ficar transformado num creme.
Deixa-se
o creme arrefecer um pouco e cobre-se o bolo com ele.
O ATUM DE BARRICA
É claro que a mesa
de S. Martinho não tem só doces e o atum
de barrica não pode faltar, nem há S.
Martinho sem ele e para variar, hoje pomos a mesa ao contrário, o atum vem no
fim até porque quem não gostar, já não precisa de comer.
Engano, o prato salgado
vem sempre no princípio, e o atum de barrica é um prato rústico, que ou se
gosta ou se não gosta, mas para quem gosta é muito bom, desde que seja bem
preparado. Vamos prepara-lo o melhor que podermos, acompanhado com batatas cozidas.
Somos
10 pessoas a comer e precisamos aproximadamente dos seguintes ingredientes:
1,5 kg de atum de barrica,
2 kg de batatas,
300g de cebolas,
1 tronco de orégãos,
4 dl de azeite,
vinagre que baste.
Como se faz:
Cada
um faz uma parte, uns preparam petisco, outros põem a mesa , outros lavam a
loiça.
Vamos
ao trabalho. Põe-se o atum de molho no
mínimo 24 horas e muda-se-lhe a água várias vezes, quando estiver
dessalgado, põe-se a cozer em água inicialmente fria com uma folha de couve dura que se deita
fora, a função da couve é absorver o ranço do atum. Quando o atum estiver cozido
escorre-se a água da cozedura, retira-se
a folha de couve e põe-se, desta vez, em água a ferver com um tronco de orégãos.
Prova-se de sal, se estiver
demasiadamente dessalgado tempera-se de sal
na conta certa. Ferve mais cerca
de 5 minutos, escorre-se a água e deixa-se ficar na panela, enquanto se preparam as batatas que também já devem estar cozidas.
Quando se começa a cozer o atum, cozem-se também as batatas à parte. Lavam-se bem, partem-se ao meio no sentido do comprimento e cozem com casca, juntamente cozem-se as cebolas descascadas, mas inteiras, apenas com
um golpe em cruz incidido no pé, para que fiquem mais bem cozidas e penetradas
de sal. Quando as batatas e as cebolas estiverem cozidas escorre-se a água da
cozedura e deixam-se ficar na panela por
um a dois minutos.
Coloca-se o atum diretamente da panela para uma travessa, ou melhor, diretamente da panela para o prato individual, à volta colocam-se as batatas (cada um descasca as suas), e coloca-se uma ou meia cebola em cada prato.
Temperam-se com azeite e vinagre diretamente no prato e come-se de seguida enquanto bem quente.
Acompanha com vinho tinto cá da terra.
Bom
S. Martinho!